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Denis Barros de Carvalho

Evangélicos no contexto brasileiro

Novos movimentos caracterizam a busca por uma fé comprometida com justiça social

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Denis Barros de Carvalho

Evangélico, doutor em psicologia social (UFRN) e professor associado da UFPI

Uma das principais características do movimento evangélico brasileiro, principalmente quando comparado à Igreja Católica, é a sua diversidade. As igrejas evangélicas podem ser classificadas em históricas e pentecostais.

As igrejas evangélicas históricas são de origem europeia, criadas em decorrência da Reforma Protestante, e são divididas em dois grupos: a) igrejas de migração, que chegaram por aqui através de imigrantes europeus, principalmente alemães e ingleses. Podemos citar como exemplo a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil e a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil; b) igrejas de missão: são igrejas que vieram ao nosso país para evangelizar nosso povo e são oriundas dos Estados Unidos. A Convenção Batista Brasileira e a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) são exemplos de igrejas de missão.

As igrejas pentecostais podem ser classificadas em "ondas", como propôs o sociólogo Paul Freston. O historiador Paulo Siepierski reelaborou a definição das ondas da seguinte forma: a primeira onda (pentecostalismo clássico) ocorre no início do século 20, com o surgimento das igrejas Assembleia de Deus (Belém) e Congregação Cristã no Brasil, fundadas por estrangeiros (a Assembleia por suecos e a Congregação por um italiano). A segunda onda (neopentecostalismo) se desenvolveu nas décadas de 50 e 60, no contexto da precária urbanização brasileira. Caracteriza-se pela ênfase na cura divina e no exorcismo como atos espetaculares e pelo uso do rádio para alcançar a população. A Igreja Quadrangular, de origem norte-americana, e as brasileiras Deus é Amor e Brasil para Cristo.


A terceira onda (pós-pentecostalismo) teve início no final dos anos 70 e início dos anos 80. O uso de estratégias de marketing que utilizam o rádio e a TV e a defesa da Teologia da Prosperidade, além de uma visão mais liberal nos costumes, diferenciam a terceira da segunda onda. São partes dela a Igreja Renascer em Cristo e a comunidade Sara Nossa Terra, entre outras. Considero a Igreja Universal do Reino de Deus como a última igreja da segunda onda e a primeira da terceira.

Outra característica do movimento evangélico é a fragmentação. A Convenção Batista Brasileira sofreu um racha que originou a Convenção Batista Nacional. As divisões produzidas na Igreja Presbiteriana do Brasil originaram três diferentes denominações: Igreja Presbiteriana Independente, Igreja Presbiteriana Renovada e Igreja Presbiteriana Unida. O principal fator de fragmentação das igrejas evangélicas históricas foi o surgimento do movimento carismático, influenciado pelo pentecostalismo. Praticamente todas as igrejas históricas tiveram seções que originaram igrejas "renovadas". A fragmentação também
ocorre nas igrejas pentecostais.

A diversidade em crise provoca a fragmentação, que produz diversidade institucional. A diversidade institucional cria espaço para novas formas de viver a fé, de modo mais progressista e, a meu ver, mais saudável.

A Igreja Presbiteriana Unida, criada por pessoas como Rubem Alves, permitiu que presbíteros e leigos pudessem exercer uma fé profética, livre das amarras necrocalvinistas da IPB, que apoiou a ditadura cívico-militar e perseguiu seus membros que optaram por fazer oposição ao monstruoso regime autoritário instalado em 64. A Igreja Betesda surgiu como uma igreja pentecostal aberta à cultura e à ação social mais crítica. Seu fundador é filho de um militar que se opôs ao golpe de 64 e, por isso, foi perseguido e preso.

Atualmente, novos movimentos minoritários caracterizam essa busca por uma fé mais comprometida com a justiça social: a Frente Evangélica pelo Estado de Direito, Evangélicos pela Diversidade e o Movimento Negro Evangélico podem ser citados como exemplo.

Se a Frente Parlamentar Evangélica lançou um manifesto que representa o Cristofascismo de mercado (que é a atualização do Cristofascismo descrito por Dorothee Sölle com elementos do fascismo de mercado que Paul Samuelson viu no Chile de Pinochet), hegemônico na estranha aliança entre necrocalvinistas e pentecostais mamônicos, resta aos evangélicos não fascistas agirem como uma minoria ativa, como descrita por Moscovici e, com isso, contribuir para a construção de uma sociedade não fascista em nosso país.


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