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Demônios eleitorais

Bolsonaro lidera busca por voto evangélico; perigo é violar laicidade do Estado

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Jair e Michelle Bolsonaro na Marcha para Jesus, no Rio de Janeiro - Gabriel Bastos/Onzex Press e Imagens

O cabo eleitoral mais disputado neste início de campanha eleitoral é o Deus dos evangélicos. Não por acaso. Calcula-se que os evangélicos, um grupo plural com diversas vertentes internas, representem 25% do eleitorado, conforme o Datafolha; católicos são 53%.

Seja pelo peso numérico, seja pela influência das lideranças religiosas, o fato é que os candidatos não podem ignorar os anseios deste eleitorado. Nesse terreno, Jair Bolsonaro (PL) sai à frente.

O mandatário ampliou de 10 para 17 pontos percentuais a vantagem nesse estrato sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —em levantamento deste mês, surge com 49% a 32%. Entre os católicos, Lula lidera com o dobro de intenções de voto de seu adversário (52% a 27%).

Era de esperar que Bolsonaro liderasse entre os evangélicos, dada a história de uso da pauta de costumes e de aproximação com pastores. "Somos contra o aborto, contra a ideologia de gênero, contra a liberação das drogas e somos defensores da família brasileira", disse o presidente na Marcha para Jesus no Rio de Janeiro, em julho.

Tampouco é novidade que o bolsonarismo propaga fake news a esse público. A mais recente foi a afirmação do pastor e deputado Marco Feliciano (PL-SP) de que Lula fechará igrejas se eleito.

Bolsonaro também mira os evangélicos como meio de reduzir sua rejeição no eleitorado feminino. Para tanto aposta em sua mulher, Michelle, adepta da crença e cada vez mais atuante na campanha.

A máquina do governo também tem seu papel. Uma indicação ao Supremo Tribunal Federal contemplou os religiosos. Na semana passada, a Receita ampliou a isenção de contribuições previdenciárias sobre a remuneração de pastores.

Já o campo petista mostra que até recentemente deixava de lado a necessidade de estabelecer uma comunicação direta com esse público. Apenas no sábado (20), Lula informou ao Tribunal Superior Eleitoral a criação de perfis nas redes sociais direcionados a evangélicos.

Como já ocorreu em pleitos anteriores, é provável que candidatos abandonem bandeiras que desagradem ao eleitorado religioso mais conservador —como a descriminalização das drogas ou do aborto, defendidas por esta Folha.

Nada há de ilegítimo em adaptar programas de governo às preferências de parcela expressiva dos votantes. O perigo, como sempre, está em pôr o Estado laico a serviço de dogmas da religião.

editoriais@grupofolha.com.br

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