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O que a Folha pensa inflação

Dor e sacrifício

Principais bancos centrais anunciam tempos difíceis para o controle da inflação

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O presidente do Fed, Jerome Powell - Samuel Corum/Getty Images/AFP

Tornam-se mais duras as palavras utilizadas pelos principais bancos centrais do mundo para descrever os desafios atuais. A julgar pelos pronunciamentos mais recentes dos dirigentes do americano Fed e do europeu BCE, ao trabalho de controlar a inflação exigirá juros elevados por longo tempo, agravando os riscos de recessão.

No caso do Fed, o presidente Jerome Powell reforçou que fará o necessário para cumprir sua missão de estabilizar preços. Haverá alguma dor, segundo seu raciocínio, pois aceitar agora uma acomodação dos índices em patamar elevado —de 8,5% nos 12 meses encerrados em julho— poderia trazer custos maiores no futuro.

O sinal é que os juros nos EUA, hoje em 2,5% ao ano, devem subir mais, para cerca de 4%, segundo a expectativa dos mercados, permanecendo assim até que haja evidência clara de queda sustentada da inflação. Diante da resiliência do mercado de trabalho e do ritmo acelerado de crescimento dos salários, a mensagem é que será inevitável o aumento do desemprego.

O mesmo vale para a Europa, com o agravante de que o continente enfrenta um choque maior nos preços de energia pela redução do fornecimento do gás russo. Nesse contexto, mesmo um quadro recessivo poderá conviver com preços em alta por algum tempo.

As incertezas em torno da política monetária são atualmente maiores do que as observadas a partir da década de 1990. Até a pandemia, havia persistente tendência de queda da inflação e dos juros no mundo desenvolvido.

São vários os motivos apontados para esse comportamento benigno, entre eles o avanço da globalização, com ganhos de eficiência e cadeias de produção bem sincronizadas, além da demografia favorável, com a entrada no mercado de trabalho de centenas de milhões de trabalhadores asiáticos, num contexto de avanços tecnológicos e digitalização.

Desde a pandemia, e ainda mais depois da guerra na Ucrânia, alguns desses pilares têm sido abalados. A busca pela nacionalização da produção de itens considerados essenciais para a segurança, a competição por recursos naturais e os bloqueios ao livre-comércio podem agora resultar num período de inflação maior e de difícil controle.

O fato é que todas essas perturbações tornam o cenário especialmente complexo. O que parece claro é o recado dos bancos centrais de que o controle da inflação hoje é a prioridade principal, ainda que à custa dos empregos.

editoriais@grupofolha.com.br

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