O pouco que se sabe acerca do atentado contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, é mais que o bastante para repúdio e temor. O risco de que polarizações políticas descambem para a violência, lá como aqui, estava evidente mesmo antes do episódio.
Vídeos mostram com clareza chocante a pistola que se aproxima do rosto de Cristina, rodeada por uma multidão de apoiadores. A vice-presente se abaixa, aparentemente sem notar a ameaça. A arma não foi disparada, por motivos ainda não esclarecidos.
A polícia local prendeu o brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel, 35, identificado como o homicida em potencial. Informações preliminares dão conta de que ele vive no país vizinho desde 1993, trabalha como motorista de aplicativo e já teve problemas anteriores com as autoridades. Munições foram encontradas em sua casa.
Ademais, seria titular de conta em rede social que acompanha discursos radicais e teria tatuagens associadas ao nazismo. A sua versão para os acontecimentos é desconhecida até o momento.
Qualquer governo faria alarde em torno do caso, por bons motivos. Tratando-se da administração do presidente Alberto Fernández, que enfrenta severa crise política e econômica a um ano das eleições, a reação inflamada chegou a atropelar a prudência necessária.
Fernández decretou feriado para que a população prestasse solidariedade à vice e ex-presidente, que é alvo de processos na Justiça e se diz vítima de perseguição.
Fez ainda pronunciamento à nação, no qual se apressou a atribuir o ocorrido ao "discurso de ódio que está dividindo os argentinos". Desnecessário dizer que tal postura em nada contribui para uma apuração rigorosa e precisa dos fatos.
Também é recomendável cautela nos paralelos entre o episódio argentino e o infame ataque à faca a Jair Bolsonaro em 2018. Este já foi objeto de investigação, na qual se concluiu que o agressor sofria de transtornos mentais e agiu de moto próprio —o restante são teses conspiratórias e desinformação espalhadas à direita e à esquerda.
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