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Giro em falso

Bolsonaro começa com vexame em Londres e acaba em tentativa de moderação na ONU

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Jair Bolsonaro (PL), durante discurso na ONU - Timothy A. Clary/AFP

Para os estrategistas da campanha de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, parecia uma grande oportunidade: uma viagem internacional perto do primeiro turno serviria para o presidente lustrar suas inexistentes credenciais moderadas ante o eleitorado mais refratário a sua postura tosca e radical.

Havia muito de torcida no plano, é evidente, dado que a rejeição ora em 53% da candidatura do mandatário desautoriza grandes esperanças. Desde maio do ano passado, ela nunca caiu abaixo dos 51%, segundo atesta o Datafolha.

Como se viu, Bolsonaro seguiu sua natureza do outro lado do Atlântico. Usou sua presença em um ritual de contrição nacional, o funeral da rainha Elizabeth 2ª, para fazer proselitismo eleitoral vulgar e barato na capital britânica.

Do balcão da embaixada brasileira, proferiu discurso de campanha. Criticou seu rival à frente nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), viu apoiadores hostilizarem a imprensa e serem repreendidos por um súdito ofendido da Coroa.

Visitou um posto de gasolina tentando provar as maravilhas de sua política intervencionista que baixou preços da Petrobras, ignorando realidades incomparáveis.

Um brasileiro que recebe o salário mínimo precisa trabalhar o sêxtuplo de um britânico na mesma situação para comprar um litro daquele combustível.

Agregando insulto à injúria, sua mulher posou para fotos com o modelito escolhido para o velório, como num desfile de moda. Sobrou tempo até para o presidente renovar seus ataques ao sistema eleitoral, evidenciando o temor de uma derrota em primeiro turno.

Leite derramado, Bolsonaro tentou reverter o dano em sua fala na abertura da Assembleia-Geral da ONU. Em comparação com seus três discursos anteriores, adotou tom bem mais moderado, explorando números da economia e, talvez pela primeira vez, não expondo o Brasil ao usual constrangimento.

Ensaiou crítica direta a Lula pelo petrolão e emitiu uma ou outra besteira dita ideológica, repetindo seu lema fascistoide sobre Deus, pátria e liberdade. Mentiu, outra recorrência, acerca de desmatamento e do apoio no 7 de Setembro.

Tudo mesquinho, mas distante das pregações amalucadas prévias. Bolsonaro quis posar até de campeão da vacina, que sempre sabotou. Sua crítica ao isolamento internacional da Rússia e o pedido de cessar-fogo com a Ucrânia encontram eco na tradição do Itamaraty.

O mesmo se dá com a constatação da baixa eficácia das Nações Unidas, feita agora com sobriedade. O petista Lula talvez dissesse o mesmo. Isso de todo modo não é exatamente uma medida de sucesso da tentativa do presidente de remediar o vexame.

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