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Civilidade e bom formato valorizam debate com poucas ideias de Lula e Bolsonaro

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Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), durante o debate de domingo (16) - Nelson Almeida/AFP

Numa campanha dominada há semanas pela guerra suja da arena digital, o primeiro debate do segundo turno da eleição presidencial tinha tudo para ser contaminado pelo baixo nível.

Felizmente, os oponentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) souberam evitar o pior no encontro deste domingo (17), organizado por um grupo de veículos formado por Folha, UOL, Bandeirantes e TV Cultura.

O formato inovador do evento, em que os candidatos tiveram liberdade para escolher assuntos e puderam administrar o próprio tempo, deu dinamismo ao embate e permitiu maior exposição de suas ideias e críticas mútuas.

As perguntas a cargo dos dois postulantes seguiram o roteiro previsível ensaiado com seus estrategistas, mas jornalistas profissionais tiveram oportunidade de fazer questionamentos incisivos, tirando ambos da zona de conforto, embora não das evasivas.

Eleitores que desejam saber mais sobre os planos do presidente e do ex-presidente para o futuro do país decerto ficaram frustrados com a superficialidade de muitas respostas, mas puderam conhecer melhor os contendores e suas diferenças.

Como ambos enfrentam elevadas taxas de rejeição, Lula e Bolsonaro investiram bastante no desgaste do adversário, revisitando velhos temas com o objetivo de salientar as fraquezas do outro diante dos votantes ainda indecisos.

Lula usou de maneira eficaz o expediente ao criticar a atuação do mandatário no enfrentamento da Covid-19 e apontar sua negligência com as vacinas como responsável por milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.

Bolsonaro alcançou efeito similar ao questionar o rival sobre escândalos de corrupção do passado. Lula soou mais uma vez pouco assertivo ao tratar do problema —e perdeu a chance de cobrar do atual chefe de Estado as explicações que ele também deve nessa seara.

Ambos tergiversaram quando questionados sobre as estratégias que pretendem seguir para restaurar o equilíbrio das contas públicas e obter os recursos necessários para custear benefícios sociais e investimentos prometidos, a todo momento, na campanha eleitoral.

Lula ignorou a pergunta do adversário sobre quem será seu ministro da Economia se vencer. Bolsonaro falsificou dados sobre desmatamento descaradamente, em vez de explicar o aumento da devastação da Amazônia em sua gestão.

Indagados sobre a desinformação na campanha eleitoral e o que poderia ser feito para conter sua propagação nas redes sociais, ambos preferiram fustigar o adversário —e nenhum dos dois pôde oferecer alguma sugestão.

Com dezenas de publicações removidas da internet por ordem da Justiça Eleitoral na campanha, Lula e Bolsonaro poderiam ter apresentado ao eleitor mais ideias, diagnósticos e propostas. Ainda assim, o tom em geral civilizado com que discutiram suas divergências desta vez deve ser reconhecido.

editoriais@grupofolha.com.br

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