Descrição de chapéu
O que a Folha pensa feminicídio

Agressão recorrente

Caráter contínuo da violência contra mulheres exige ações de proteção antecipada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Manifestação pelo Dia Internacional da Mulher, em São Paulo (SP) - Bruno Santos/Folhapress

Uma a cada três mulheres que sofreram violência com arma de fogo no Brasil já havia passado por agressões anteriores. Dito de outro modo, 31% desses casos de violência registrados pelas redes de atendimento em saúde apontam para ciclos de abusos contínuos.

O levantamento é do Instituto Sou da Paz, com base em informações do Sistema de Informações sobre Mortalidade e do Sistema Nacional de Vigilância de Agravos de Notificação, ambos do Ministério da Saúde, referentes ao período entre 2012 e 2020 —último ano com os dados disponibilizados pelo governo federal.

O caráter reiterado é próprio do abuso contra as mulheres no Brasil e no mundo. Para se chegar ao extremo com o uso de arma de fogo, antes as vítimas passaram por outros tipos de violência física e sexual, além da psicológica, moral e patrimonial —descritas na Lei Maria da Penha, de 2006.

Os números atestam o crescimento da chamada violência de repetição contra mulheres no país. Em 2012, 23% dos casos com armas de fogo estavam ligados a agressões anteriores. Em 2018, a cifra passou a 26% e, em 2020, 31%.

O aspecto familiar contribui para a repetição da violência, que ocorre longe das vistas do público: 27% das mortes de mulheres com arma de fogo ocorreram dentro de casa (no caso de homens, são 11%).

Assim, onde mães e esposas deveriam se sentir protegidas é justamente onde se encontram mais vulneráveis: 72% dos casos de agressão armada associados à violência de repetição ocorreram dentro da residência da mulher.

Quando é levado em consideração o fator racial, nota-se que 7 em cada 10 mulheres assassinadas a tiros são negras —sendo que 45% morrem na rua e um quarto em casa, mostrando que esse estrato é mais vulnerável também fora do ambiente doméstico.

Para reverter esse quadro deplorável, é preciso aplicar a lei, que já prevê medidas protetivas e apreensão da arma de fogo do agressor.

Mas também é fundamental que a violência de repetição seja identificada com agilidade —a partir de protocolos que meçam riscos caso a caso— na rede de atendimento básico, como hospitais e postos de saúde, e que haja compartilhamento de dados com os órgãos de segurança e de assistência social.

editoriais@grupofolha.com

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.