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Caldeirão chinês

Política de Covid zero leva população do país a lutar como nunca por liberdade

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Protesto contra lockdown e censura imposta pelo governo chinês, em Pequim - Noel Celis/AFP

Os protestos que agora ocorrem na China representam um ingrediente novo no panorama geopolítico global. Trata-se de um movimento amplo e generalizado contra o governo central e uma de suas políticas definidoras: a estratégia Covid zero. Há, inclusive, clamor pela destituição do todo-poderoso Xi Jinping e por liberdade política.

Até agora, a máquina repressora chinesa contém os protestos com prisões e abertura de inquéritos contra manifestantes, e tudo leva a crer que o regime reforçará as medidas de vigilância e de censura em vigor há décadas no país.

Não há dúvida de que a política de lockdown, no início da pandemia, quando não havia vacinas, era uma boa estratégia. A China conseguiu não apenas evitar altas taxas de mortalidade vistas em países mais ricos como também sofreu menor impacto na economia.

Mas o perfil da pandemia mudou nos últimos dois anos. As vacinas funcionam de modo eficaz, e o vírus evoluiu para formas mais infecciosas que, entretanto, têm causado menos mortes. O problema é que o governo de Pequim, como todo regime ditatorial, tem enorme dificuldade para reconhecer erros e mudar rotas, caso necessário.

Os lockdowns, pelos custos psicológicos e econômicos impostos à população, deixaram de ser a melhor receita. Porém o gigante asiático não levou adiante os ajustes adotados por outras nações.

Para não dizer que Pequim age de modo totalmente irracional, há particularidades da epidemia na região que ensejam dúvidas. Com 1,4 bilhão de habitantes, o país vacinou bem, mas há falhas de cobertura em algumas faixas demográficas sensíveis, como a dos idosos.

Além disso, dado o sucesso inicial da estratégia, o vírus pouco circulou pelo país, o que, paradoxalmente, contribui para que a população local tenha hoje menos imunidade do que a de nações onde se registrou uma combinação de vacinação com infecção natural.

Quaisquer que sejam as dúvidas da liderança chinesa, o fato é que não é possível viver em lockdown para sempre, como a população demonstra nos protestos. Providências para substituir a Covid zero por outras medidas já eram necessárias havia algum tempo.

Já a oposição percebeu que um amplo movimento de contestação ao regime não é um cenário tão irrealizável assim. A atual onda de desobediência civil mostra que a China não é mais imune a crises políticas. Isso pode mudar o jogo.

editoriais@grupofolha.com

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