Descrição de chapéu
Gerson Yukio Tomanari

Educação superior: para a sociedade e para o mercado

Modelos de universidades devem se complementar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Gerson Yukio Tomanari

Professor titular do Instituto de Psicologia, ex-pró-reitor adjunto de Graduação da USP e coordenador da Área de Psicologia na Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)

Lideranças empresariais apontam que a educação superior tem atendido insatisfatoriamente às necessidades do mercado de trabalho. A publicidade do comércio educacional replica essa crítica como forma de atrair estudantes com a promessa da formação ideal.

Nesse contexto, ganham expressão os cursos de graduação das "employer universities" ("universidades de empregadores", em tradução livre), que privilegiam o contexto profissional e enfatizam habilidades e competências técnicas e pragmáticas demandadas circunstancialmente pelo mercado de trabalho.

Habilidades comportamentais e socioemocionais, as "soft skills", são valorizadas como catalisadores de sucesso. À formação agregam-se valores da cultura ESG ("environment, social and governance"), tratando-se de corporação bem administrada, ambientalmente sustentável e com responsabilidade social.

As universidades brasileiras foram constituídas e constitucionalmente consolidadas sob forte influência do modelo oitocentista alemão de universidades de pesquisa proposto por Alexander von Humboldt.

Nestas, ensino e pesquisa são indissociáveis e ocorrem em um ambiente de liberdade do que se pesquisa e do que se aprende.

A universidade humboldtiana baseia-se em uma comunidade acadêmica ampla e diversa, na qual as pesquisas básicas e teóricas são valorizadas pelos conhecimentos que produzem, coexistindo com as pesquisas aplicadas que geram tecnologias e inovações à sociedade.

Os estudantes podem estruturar sua formação respeitando seus interesses intelectuais, artísticos e culturais à medida que trilham na direção de seus propósitos profissionais. Trabalham em equipes de pesquisadores de diferentes níveis de formação, concebendo e executando projetos coletivos.

Atenta ao mercado de trabalho, mas sem o compromisso de acompanhá-lo "pari passu", a universidade de pesquisa acolhe e desenvolve uma multiplicidade de habilidades e competências que enriquecem a diversidade intelectual dos estudantes. Busca fornecer recursos teóricos e metodológicos que os levam à superação de imprevistos pela inovação, ultrapassando a execução de rotinas. Saber produzir o conhecimento cientificamente válido é fundamental para gerar pensamento crítico e criativo nas intersecções do conhecimento. O resultado é que os campos tecnológicos interagem com as ciências humanas; as ciências da vida incorporam as exatas; as ciências seguem permanentemente em busca de novas intersecções.

Se as "employer universities" visam a formar para o mercado de trabalho, as universidades de pesquisa o fazem para as realidades do todo da sociedade. Estes dois modelos de educação superior exercem papéis distintos, não necessariamente excludentes, mas complementares. Ambos têm (ou teriam) funções a desempenhar como propulsores do desenvolvimento artístico, cultural, econômico e social do país.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.