Lideranças empresariais apontam que a educação superior tem atendido insatisfatoriamente às necessidades do mercado de trabalho. A publicidade do comércio educacional replica essa crítica como forma de atrair estudantes com a promessa da formação ideal.
Nesse contexto, ganham expressão os cursos de graduação das "employer universities" ("universidades de empregadores", em tradução livre), que privilegiam o contexto profissional e enfatizam habilidades e competências técnicas e pragmáticas demandadas circunstancialmente pelo mercado de trabalho.
Habilidades comportamentais e socioemocionais, as "soft skills", são valorizadas como catalisadores de sucesso. À formação agregam-se valores da cultura ESG ("environment, social and governance"), tratando-se de corporação bem administrada, ambientalmente sustentável e com responsabilidade social.
As universidades brasileiras foram constituídas e constitucionalmente consolidadas sob forte influência do modelo oitocentista alemão de universidades de pesquisa proposto por Alexander von Humboldt.
Nestas, ensino e pesquisa são indissociáveis e ocorrem em um ambiente de liberdade do que se pesquisa e do que se aprende.
A universidade humboldtiana baseia-se em uma comunidade acadêmica ampla e diversa, na qual as pesquisas básicas e teóricas são valorizadas pelos conhecimentos que produzem, coexistindo com as pesquisas aplicadas que geram tecnologias e inovações à sociedade.
Os estudantes podem estruturar sua formação respeitando seus interesses intelectuais, artísticos e culturais à medida que trilham na direção de seus propósitos profissionais. Trabalham em equipes de pesquisadores de diferentes níveis de formação, concebendo e executando projetos coletivos.
Atenta ao mercado de trabalho, mas sem o compromisso de acompanhá-lo "pari passu", a universidade de pesquisa acolhe e desenvolve uma multiplicidade de habilidades e competências que enriquecem a diversidade intelectual dos estudantes. Busca fornecer recursos teóricos e metodológicos que os levam à superação de imprevistos pela inovação, ultrapassando a execução de rotinas. Saber produzir o conhecimento cientificamente válido é fundamental para gerar pensamento crítico e criativo nas intersecções do conhecimento. O resultado é que os campos tecnológicos interagem com as ciências humanas; as ciências da vida incorporam as exatas; as ciências seguem permanentemente em busca de novas intersecções.
Se as "employer universities" visam a formar para o mercado de trabalho, as universidades de pesquisa o fazem para as realidades do todo da sociedade. Estes dois modelos de educação superior exercem papéis distintos, não necessariamente excludentes, mas complementares. Ambos têm (ou teriam) funções a desempenhar como propulsores do desenvolvimento artístico, cultural, econômico e social do país.
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