O mundo só existe porque pessoas são diferentes. Pessoas só existem porque são diferentes. E diferenças existem porque pessoas vieram ao mundo para transformar.
E nós, divididos entre o calcanhar do Neymar e o voleio do Richarlison, entre o certo e o errado, onde certo é quem pensa igual a nós, e quem pensa diferente é mau, estamos estancados, defendendo as nossas posições com ouvidos hermeticamente tapados e o coração endurecido. A polarização ideológica foi longe, virou uma paixão, invadiu os terrenos ético e sentimental e se legitimou a definir e delimitar o execrável e o adorável, o bem e o mal.
Porém, ironicamente, esses dois extremos, fruto de uma irresponsabilidade institucional, faz todos — os bons e os maus — caírem numa mesma armadilha. Assim, ficamos presos; assim, viramos presas. E enquanto os protagonistas estão lá tentando alianças, nós, aqui, estamos rompendo alianças.
Uma disputa tribal como essa fragiliza nossa autonomia e liberdade individuais, por mais que, paradoxalmente, nos sintamos livres para gritar e xingar nas ruas. É esse o paradoxo: se a liberdade de expressão garantida pela democracia é usada de forma desmedida e violenta, ela ameaça a própria democracia.
O maniqueísmo funciona bem nas novelas. Na vida real, o reino da luz e o das sombras se confundem. Somos todos fogo e água, certos e errados: existimos porque somos essas duas forças juntas. Portanto, os discursos de ódio e todas as discussões em família e grupos são rasas e estéreis.
O barco não pode se repartir em dois sem afundar. Uma hora vamos ter que baixar a temperatura do embate e remar para a mesma direção. Olhar para a frente, e não para os lados, esquecer as raivas e usar esse fogo todo para aquecer, iluminar.
Pelo país, pelos nossos filhos, por nossa floresta, pela comida no prato de todos, mas principalmente pela liberdade de não sermos mais voluntariamente coagidos pelos agentes do Estado.
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