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Gero Fasano

Quando se trata de futebol, jamais perderemos a arrogância

Acho que não verei a seleção brasileira campeã do mundo novamente

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Gero Fasano

Empresário, é sócio do grupo Fasano

Acho que ninguém tem dúvidas de que o maior vexame de todos os Mundiais foi a derrota em casa para a Alemanha por 7 a 1 —que, na verdade, deveria ter sido 10 ou 12 gols não fosse a cordialidade dos alemães. Afinal, eles desejavam a nossa torcida contra os argentinos na final porque jogávamos uma Copa sediada no Brasil.

Pois é: parece que de nada serviu. Continuamos a achar que temos o melhor futebol do planeta e parece que ninguém percebe que o mesmo vexame aconteceria quando enfrentássemos França, Inglaterra ou Argentina.

A diferença da velocidade do futebol praticado por essas seleções é semelhante a assistir a um jogo da NBA e a uma partida de basquete praticada no Brasil. Estamos lentos, enfadonhos.

A cena que viralizou na internet do Neymar gritando com sua própria defesa, implorando que lá atrás eles ficassem, ficará também para nossa negativa história. O que o sr. Tite deveria estar obrigando o time a fazer, Neymar tentava com toda razão explicar. Quase que como se tivesse dito: "Vocês não perceberam que eu acabei de fazer um golaço, o jogo está difícil, os croatas de bobo não têm nada e com apenas 4 milhões de habitantes no país inteiro conseguiram montar um time melhor que o nosso?". Muito patético tomar um gol de contra-ataque; sim, um contra-ataque nos minutos finais da prorrogação, com a partida praticamente ganha.

Eu não gosto de criticar jogadores; sempre haverá gerações mais talentosas que outras, e tenho certeza de que ninguém perde pênalti de propósito. Todos tentam dar o máximo de si, cada um com suas limitações. O que falta, como sempre, é o tal comando técnico —inclusive, bom treinador mesmo consegue mudar e melhorar características de bons jogadores.

Gostaria muito que alguém me explicasse porque, mesmo com uma péssima performance na Copa da Rússia, o sr. Tite ganhou nova chance neste Mundial. Na minha opinião, não fez nada por merecer.

A cada quatro anos, o Brasil se sente favorito. Como se porque assim Deus quis. E ficamos todos contagiados e somos fomentados, óbvio, pela quantidade infindável de colunistas esportivos extremamente torcedores. Salvo raras exceções, ficam com aquele sorriso de que somos favoritos e de que o mundo vai ter que ouvir o nosso pagode, mesmo fazendo parte de um país que criou a bossa nova. Triste.

Um jornalista inglês, que com toda razão tirou sarro de Tite, foi duramente criticado por uma jornalista do mesmo veículo, que defendeu o treinador por ter dançado como um pombo desengonçado —justo ele que nunca, aparentemente, sorriu na vida. Ah, que falta faz nessas horas um Paulo Francis ou um Ivan Lessa. Nossa…

No próximo domingo (18), tudo acaba, o mundo recomeça, e nossas mazelas voltam.

Como não tenho nem nunca tive nada contra nossos vizinhos argentinos e uruguaios, torcerei muito para que a Argentina consiga se superar. Aliás, sou da opinião de que a decadência da Argentina jogou todo o continente sul-americano para baixo. Era um país maravilhoso, sem analfabetismo, sem miséria e sem tanta desigualdade social. Tenho a sensação de que, quando torcemos contra eles, torcemos contra nós mesmos.

Assisti ao último jogo do Brasil com um ótimo ex-goleiro da seleção, que me explicou: "Gero, o jogo, quando é eliminatório, os dois aviões estão prontos no aeroporto para levar o time que perde de volta para casa". Muito tenso, não? Mas vamos aos números: uma Copa do Mundo hoje tem 32 seleções; na próxima, serão 48. O que nos faz pensar que ganhar é fácil? Tivemos várias excepcionais gerações, talvez voltemos a ter, mas sem comando técnico e ufanismo, sofreremos tal qual nos dias de hoje.

Não jogamos o melhor futebol do mundo —nem sequer temos os melhores jogadores.

Alguém sempre poderá dizer: "Ah, mas fomos sempre a todas as Copas do Mundo". Bom, também, com a moleza das nossas Eliminatórias Sul-Americanas, teríamos mesmo que ir. Fora o fato de que, em 1994, fomos salvos no último jogo pela genialidade de Romário e a ajuda de Bebeto. Acordemos, acabou!

Pelo menos que paremos de ouvir tantos comentaristas esportivos com sorriso no rosto e samba no pé. Tomara que o mesmo aconteça com os programas culinários, salvo sempre boas exceções, sofríveis (os de reality show, então, uma catástrofe).

A vida passa rápido, infelizmente demais, e eu não acho que verei a seleção brasileira campeã do mundo novamente. Mas espero fazer um grande esforço para sofrer menos, entender que é apenas um campeonato e que o centro do futebol mudou. Confortem-se, torçam para a quase impossível missão de "los hermanos".

PS. Que o próximo técnico brasileiro, seja ele de onde vier, tenha pelo menos uma característica: senso de humor.

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