Descrição de chapéu
O que a Folha pensa PIB

Retórica quebrada

Avaliação dramática do PT sobre Estado é perigosa se basear alta geral de gastos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Aloizio Mercadante, coordenador dos grupos técnicos da transição de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Adriano Machado/Reuters

Diagnósticos catastrofistas podem ser úteis para o embate político, mas, quando levados a sério, nunca resultam em bons planos de governo. Na hipótese mais benigna, produzem polêmicas vazias que não passam do campo retórico.

Considere-se, a esse respeito, a declaração apresentada pela equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a respeito da situação orçamentária legada por Jair Bolsonaro (PL).

"O diagnóstico que vai ficando claro para o governo de transição é que governo Bolsonaro quebrou o Estado brasileiro. Serviços essenciais ou já estão paralisados ou correm grande risco de serem totalmente comprometidos", afirmou o ex-ministro petista Aloizio Mercadante, coordenador dos grupos técnicos da transição.

A assertiva motivou resposta oficial do Ministério da Economia no domingo (11). A pasta rebate a acusação com o argumento de que a dívida pública encerrará o ano em patamar semelhante, até um pouco menor, que o do início da gestão —na casa de 74% do Produto Interno Bruto, ante 75,3% em 2018.

Ademais, o Tesouro Nacional terá neste ano o primeiro superávit primário (receitas acima das despesas, sem considerar os encargos com juros) desde 2013.

Há aí um debate mal encaminhado, sem dúvida. A começar pela cantilena do "Estado quebrado", repetida de forma leviana em diversos momentos da história recente.

É fato que o governo Bolsonaro chega ao fim com grande desordem nas finanças públicas —gastos elevados em algumas áreas e escassez de recursos em outras. Isso resulta, principalmente, de iniciativas eleitoreiras, como o aumento do Auxílio Brasil e de outros benefícios, e políticas, como a expansão das emendas parlamentares.

Deve-se acrescentar que o superávit alardeado pela pasta da Economia é circunstancial, em razão de um recorde de arrecadação, e não poderá ser mantido em 2023.

Entretanto o ministério trata, sim, de uma questão crucial ao apontar que a dívida pública foi mantida sob controle, a duras penas, mesmo com a pandemia. É justamente a contenção do endividamento que mantém o crédito do Estado —evitando sua falência.

A verve de Mercadante serve ao propósito político de, ao descrever um cenário de terra arrasada, reduzir as cobranças sobre Lula. O mesmo se fez, duas décadas atrás, com a expressão "herança maldita", atribuída aos antecessores tucanos.

Pior será se a equipe petista acreditar mesmo que a recuperação do Estado passa por uma elevação contínua e generalizada de gastos.

editoriais@grupofolha.com

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.