Forças Armadas atuantes no governo; ataques ao Judiciário, ao sistema eleitoral e à imprensa; discurso contra medidas de proteção durante a pandemia de Covid-19.
Essa poderia ser uma descrição da gestão direitista de Jair Bolsonaro (PL), mas o personagem é o presidente esquerdista do México, Andrés Manuel López Obrador, ou AMLO, como é conhecido.
O que os une é o velho populismo em novas roupagens, adaptadas ao tempo das redes sociais. Mais uma vez, o líder personalista, que se pretende representante do povo, afronta as instituições que limitam seu poder e sua vontade.
No caso de AMLO, sua mais recente investida foi a aprovação, no Senado, do projeto de lei do Executivo que reduz o orçamento do Instituto Nacional Eleitoral (INE), que organiza as eleições e fiscaliza a lisura do processo, atribuições similares às do TSE no Brasil.
Os cortes de verbas e de profissionais dificultam a estruturação dos postos de votação e a contagem de votos. Ademais, o órgão perde a função de punir políticos por infração às leis eleitorais.
Segundo opositores e acadêmicos mexicanos, a medida é inconstitucional e ameaça a independência do INE, além de servir a propósitos eleitoreiros para o partido do presidente, o Morena, e seus correligionários no pleito de 2024.
Assim como o americano Donald Trump e Bolsonaro, AMLO também lança torpedos contra a imprensa. Todas as manhãs, reúne-se com um grupo escolhido de jornalistas e fala por horas, em eventos chamados de "mañaneras". Invariavelmente, há ataques a profissionais e veículos de comunicação que criticam o governo.
Esse falatório diário não apenas estimula a polarização política como incentiva agressões a jornalistas, que vêm crescendo de modo preocupante nos últimos anos.
Segundo relatório da ONG Artigo 19, de 2022, nos três primeiros anos de governo (entre 2019 e 2021), os ataques à imprensa cresceram 85% em relação ao mesmo período da gestão anterior. Só em 2021, foram 644 agressões.
No mesmo ano, sete jornalistas foram mortos em razão do exercício da profissão. O primeiro triênio de AMLO acumula 33 homicídios —desde 2000, foram 190.
Como também o demonstram os bolsonaristas que agridem covardemente profissionais de imprensa, o populismo varia de grau e de ideologia, mas nunca está muito distante do autoritarismo.
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