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Tensão bancária

Bancos centrais americano e brasileiro decidem juros com os olhos na crise

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Fachada do Federal Reserve, em Washington (EUA) - Jonathan Ernst/Reuters

As providências tomadas com o fim de conter a desconfiança global nos bancos não bastaram para evitar a venda maciça de ações de instituições financeiras de pequeno e médio porte nos EUA.

Por si só, esse não é um indicador de crise descontrolada. Mas é sinal de que o problema ainda se desenrola —e atinge outras praças, como demonstra o socorro ao Credit Suisse, comprado pelo UBS com apoio das autoridades suíças.

Mais do que isso, o tumulto deve ter impacto na atividade econômica e coloca os bancos centrais, dos Estados Unidos e do mundo, diante de um dilema difícil. Uma decisão equivocada pode ter consequências dramáticas.

Desde a derrocada do americano SVB, em 6 de março, o preço das ações do First Republic desabou. Na semana passada, 11 bancos do país anunciaram que depositariam US$ 30 bilhões em contas do combalido par de negócios.

Não bastou. Ao que parece, investidores desconfiam das perspectivas do First Republic e similares. Não foi suficiente também o governo dos EUA divulgar, de modo informal, que cessara a onda de saques das contas das pequenas e médias instituições financeiras —ao menos no conjunto delas.

Bancos também recorrem em massa às linhas emergenciais de empréstimos do Fed, o banco central americano, como não o faziam desde 2008. De um lado, é evidência do estresse. De outro, quer dizer que há ampla rede de apoio.

O problema maior ainda parece ser a insegurança. A crise foi detonada pelo colapso de instituições que não estavam no radar de analistas e, mais grave, de supervisores. Há setores financeiros pouco transparentes e nada regulados.

Além disso, o próprio abalo dos bancos médios deixará cicatrizes na economia real, com redução do crédito. A queda de taxas de juros e de preços de commodities indica que, nos mercados, espera-se resfriamento econômico.

Afora o setor de tecnologia, a economia resistia bem à alta rápida da taxa básica de juros. Nos EUA há pleno emprego; a confiança e a despesa de consumidores se recuperavam no início do ano.

Esse, aliás, era o problema do Fed: uma inflação em queda apenas ligeira em uma economia ainda aquecida. Um par de dias antes dos colapsos bancários, a discussão era se o BC americano deveria acelerar o aperto monetário.

O Fed terá decisão difícil pela frente nesta semana. Subir os juros, como fez o Banco Central Europeu, pode ter impacto sobre os bancos. Guardadas as proporções, o Banco Central brasileiro, que tende a manter estável a Selic, e as demais autoridades econômicas também terão de levar em conta o novo cenário em suas decisões.

editoriais@grupofolha.com

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