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Teleprompter já

Fala do presidente tem grande peso na sociedade e deve ser tratada com cuidado

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa durante cerimônia no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters

No Império brasileiro, os trabalhos legislativos anuais abriam-se e encerravam-se com a "fala do trono". Não obstante a alusão à oralidade, as peças eram na verdade escritas com denodo, e seus termos, detidamente sopesados, antes da apresentação aos parlamentares.

A República livrou-se do vezo absolutista da velha tradição, mas não da centralidade do discurso para o exercício do poder pelo chefe de Estado. A palavra do presidente tem grande peso na sociedade e deveria receber melhor atenção do círculo governamental.

O improviso, decantado por seguidores seja do atual mandatário, seja do seu antecessor, costuma ser traiçoeiro e custoso. Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embananou-se com frases um tanto desconexas tratando de preguiça dos indígenas, da miscigenação como um lado bom da escravidão e dos malefícios da obesidade.

Um discurso organizado e preparado antecipadamente com a ajuda de auxiliares familiarizados com os assuntos tocaria nesses temas com eficácia e elegância.

A miscigenação pode conotar um alto grau de liberdade para os indivíduos se relacionarem numa dada sociedade desde que não haja violência nem submissão, como houve durante a escravidão no Brasil. A obesidade é uma doença grave e crescente no país, embora devamos combater os preconceitos contra pessoas obesas.

Numa dessas falações sem bússola, que bajuladores aplaudem como geniais, Lula tachou de golpista o governo de Michel Temer (MDB). Dois minutos de reflexão e um texto escrito à sua frente o teriam poupado do ataque gratuito a aliados e potenciais aliados de seu terceiro mandato.

Nos juros, a oratória destampada do presidente resultou no oposto do que almejava. Queria, como aliás é o desejo geral no país, que as taxas caíssem, mas as suas ameaças à autonomia do Banco Central encareceram o crédito e postergaram a redução esperada da Selic.

A imagem do encantador de serpentes ou a do pícaro que, com a sua prosódia melíflua, convence a plateia das teses mais indigestas não combinam com o exercício da Presidência nas democracias modernas —nem com Lula, haja vista seu desempenho errático nos debates eleitorais recentes.

As responsabilidades políticas, econômicas e sociais implicadas na mensagem do governante exigem que se dê a ela tratamento profissional, protocolar e mediato. O uso mais frequente do teleprompter, o dispositivo eletrônico que mostra ao presidente o que ele de antemão se propôs a falar, faria um grande bem à República.

editoriais@grupofolha.com

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