Descrição de chapéu
O que a Folha pensa PIB

Lula e a China

Viagem retoma pragmatismo diplomático, mas o mundo não é o mesmo de 2003

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante seu segundo mandato, encontra Hu Jintao, então presidente da China, em Pequim - Jason Lee - 19.mai.09/AFP

A vocação diplomática do Brasil —país sem conflagrações internas nem desavenças externas, democrático e dotado de grande ativo produtivo e ambiental— deveria ser a de estabelecer relações estáveis com todos os países, com atenção para as que ampliem renda e bem-estar dos brasileiros.

É elogiável, portanto, a retomada do pragmatismo com a China, depois das hostilidades infantiloides patrocinadas por Jair Bolsonaro (PL). A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), secundado por comitiva de congressistas e ministros, ao país asiático consolida essa normalização.

O Brasil exportou para a China, no ano passado, o equivalente a US$ 90,8 bilhões e importou de lá US$ 61,6 bilhões. A soma das duas cifras, a chamada corrente de comércio, representou 25%, ou US$ 1 de cada US$ 4, de tudo o que foi transacionado entre brasileiros e estrangeiros em 2022.

Vinte anos antes, no fim do segundo mandato do tucano Fernando Henrique Cardoso, o comércio com a China abarcava menos de 5% das negociações brasileiras com o mundo. As trocas internacionais do Brasil multiplicaram-se por quase seis desde então, assim como o peso dos chineses nelas.

Foram majoritariamente petistas os governos que acompanharam, desde o início do século, a impressionante marcha da economia chinesa e dela se beneficiaram. O PIB do gigante asiático avançou em média 10,5% ao ano na primeira década das gestões do PT. Entretanto esse quadro mudou.

No período de dez anos findo em 2022, a atividade chinesa cresceu 6,2% ao ano, em média, velocidade que deve cair abaixo de 5% em meados desta década. A China converteu-se num país de renda per capita mediana, 25% superior à do Brasil, mas ainda está muito longe do clube dos mais ricos.

A geopolítica também se alterou sobremaneira. Encolheu-se a perspectiva de integração global sob os auspícios universalistas da Organização Mundial do Comércio. Estados Unidos e China hoje digladiam-se numa grande batalha comercial pela vanguarda tecnológica dos semicondutores.

A Rússia, que violou a Carta da ONU ao agredir militarmente a Ucrânia, entrega-se a Pequim. Um polo que aglutina regimes ditatoriais volta a aguilhoar a hegemonia das democracias ocidentais, que por seu turno têm de lidar com movimentos populistas e autoritários dentro de suas fronteiras.

A China que Lula visitará é diversa da que despontava em 2003, assim como o mundo, que se tornou mais complexo e desafiador.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.