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Gestão Lula chega a cem dias com normalidade institucional e olhos no retrovisor

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Evaristo Sá/AFP

Numa democracia, governos podem ser bons ou ruins —em geral carregam aspectos positivos e também negativos— e têm legitimidade para perseguir a agenda referendada nas urnas. Só não deveriam deixar de obedecer aos protocolos e aos rituais constitucionais.

Ressalte-se, a propósito, o retorno à regularidade institucional no marco dos cem dias desta administração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Cessaram as investidas do chefe de Estado contra outros Poderes e os flertes com a caserna, comuns na quadra anterior.

A relação do Executivo com o Congresso Nacional retomou as maneiras amadurecidas que se exigem das duas instâncias consagradas pelo escrutínio popular. O exercício da Presidência recuperou o mínimo da impessoalidade condizente com a ideia de República.

Já no terreno da gestão, o terceiro mandato do petista procura reatar, não sem ruídos, a conexão com as melhores práticas na educação, na saúde, na seguridade, na política ambiental e nos direitos humanos. Há mais profissionalismo nas polícias Federal e Rodoviária.

Os pontos críticos, por seu turno, derivam quase todos de uma visão ultrapassada do mundo e do Brasil. O Lula de 2023 ainda não compreendeu a evolução das últimas duas décadas, não aprendeu com os erros do próprio partido nem tampouco com o resultado da eleição.

A demanda por mais liberdade econômica e por um Estado eficiente, voltado para suas tarefas sociais precípuas, perpassa segmentos populares volumosos da sociedade brasileira. Reduziu-se a tolerância com o corporativismo e o dirigismo ainda incrustados no PT.

Não por coincidência, nos últimos anos foram aprovadas leis para dotar as estatais de padrões de governança, acelerar a universalização do saneamento, reduzir subsídios no crédito, resguardar a atuação técnica do Banco Central e modernizar as relações de trabalho.

Insurgir-se contra essa maré de reformas, como com frequência fazem o presidente e seus auxiliares, prejudica o desenvolvimento do país e, além disso, frustra um contingente de cidadãos capaz de determinar maiorias eleitorais. É uma péssima estratégia política.

Anacronismos se mantêm na política externa. Tornou-se mais custoso afagar autocratas amigos e, ao mesmo tempo, sustentar retórica antiautoritária no Brasil.

A esquerda sul-americana é capaz de atualizar-se, como demonstra o Chile. Basta que reconheça onde estão as suas virtudes —nas políticas de inclusão— e os seus fracassos —na ideia de que o Estado dirige a economia e na de que algumas ditaduras são toleráveis.

Lula ainda tem outros 1.365 dias de mandato. Há tempo suficiente para reorientar o governo.

editoriais@grupofolha.com.br

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