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Mal-estar econômico

Contra pessimismo captado pelo Datafolha, Lula precisa de medidas difíceis

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Gabriela Biló/Folhapress

Não é confortável a situação da economia percebida pelos brasileiros. A tendência de melhora das avaliações no ano passado deu lugar a uma constatação mais forte de estagnação nos últimos meses. Mais grave, há clara deterioração das expectativas para a evolução do emprego, dos salários e da inflação.

Em linhas gerais, essa é a percepção captada pela pesquisa mais recente do Datafolha, que colhe os primeiros impactos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Somente 23% acham que a situação do país progrediu nos últimos meses, ante 34% no final de outubro, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial. Os que acreditam em piora também caíram, de 42% para 35%, mas o movimento mais notável se deu entre aqueles que não veem mudança, que saltaram de 23% para 41%.

Quanto ao futuro, o aumento do pessimismo é inequívoco. Em outubro, apenas 13% dos brasileiros aptos a votar consideravam que a economia do país iria piorar. O percentual subiu a 20% em dezembro e atingiu 26% agora. Já os que esperam melhora caíram de 62% para 49% em dezembro e 46% em março.

Em aspectos mais específicos, desde dezembro ampliou-se a parcela dos entrevistados que preveem mais inflação (de 39% para 54%), mais desemprego (de 36% para 44%) e perda do poder de compra dos salários (21% para 31%).

Tais projeções têm amparo na realidade. Depois de uma expansão surpreendente no primeiro semestre do ano passado, a atividade econômica se encontra em desaceleração, o que já afeta o mercado de trabalho. Já a alta de preços tem se mostrado resistente.

Ao mesmo tempo, Lula tem feito má gestão das expectativas desde a vitória nas urnas, com ataques ao Banco Central, críticas às metas de inflação e declarações contra a austeridade orçamentária.

O Datafolha ajuda a entender a insistência do mandatário na ofensiva contra os juros —que tem o apoio de esmagadores 80%, enquanto 71% consideram que as taxas estão acima do adequado.

É compreensível o anseio geral por juros mais baixos. Entretanto as pressões públicas de Lula sobre o BC, somadas às intenções gastadoras do governo, acabam por dificultar a queda da inflação esperada e, assim, da taxa Selic.

A administração petista não contará com nenhuma bonança imediata na economia. Diante de um quadro político também pouco amigável, é natural que a popularidade do atual presidente se compare aos níveis modestos obtidos por Jair Bolsonaro (PL) no mesmo período de mandato.

Cumpre tomar agora as decisões difíceis que poderão permitir uma melhora mais duradoura do cenário nos próximos anos.

editoriais@grupofolha.com.br

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