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O que a Folha pensa drogas

Remédio e veneno

Opioides aliviam dor, mas devem ser controlados por causarem dependência e morte

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Comprimidos de oxicodona, um analgésico opioide - Eric Baradat/AFP

Para o senso comum, drogas são substâncias psicoativas danosas proibidas por lei. Contudo, no glossário da Organização Mundial da Saúde (OMS), o termo refere-se a qualquer agente que altere processos bioquímicos e fisiológicos de tecidos ou órgãos, capaz inclusive de tratar ou curar doenças.

Assim, drogas hoje ilegais já foram vendidas em farmácias no passado, como a cocaína e a maconha. Atualmente, há remédios receitados por médicos que são controlados, pois podem causar dependência química e até a morte, como os calmantes (benzodiazepínicos) e os analgésicos opioides.

Estes últimos estão no centro de uma grave crise de saúde pública nos EUA. Com o alto índice de prescrição indiscriminada para tratamento de dores, muitos pacientes ficam dependentes e buscam o tráfico para ter acesso às drogas.

Outro opioide que vem preocupando autoridades americanas é o fentanil, anestésico de uso restrito hospitalar que é 50 vezes mais potente do que a heroína. No final do ano passado, o órgão oficial de controle interceptou 379 milhões de doses da sustância —dois miligramas do opioide seriam suficientes para causar morte.

O problema aterrissou no Brasil em fevereiro, quando a Polícia Civil fez a primeira apreensão de fentanil, no Espírito Santo. Foram encontradas 31 ampolas que seriam usadas para intensificar o efeito de drogas como ecstasy e cocaína.

Nos EUA, o mercado ilegal de fentanil é abastecido pela produção de cartéis mexicanos. Aqui, o material obtido na primeira apreensão veio de uma indústria farmacêutica de Minas Gerais.

O poder público deve ficar atento ao consumo de opioides, seja por meio da medicina ou do tráfico.

Entre 2012 e 2018, a venda prescrita de analgésicos a base de ópio cresceu 465%, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Pesquisa da Fiocruz de 2019 mostrou que 4,4 milhões de brasileiros já fizeram uso ilegal (sem prescrição) de opioide, o que representa 2,9% da população —o triplo do índice de pessoas que já usaram crack (0,9%).

O debate sobre a descriminalização das drogas vem crescendo em todo mundo. Trata-se de causa justa e amparada na ciência. Mas descriminalizar não implica liberdade irrestrita. Cada droga deve ser tratada pelas suas especificidades químicas, usos e consequências. No caso dos potentes opioides, é preciso regulação e controle rígido.

editoriais@grupofolha.com.br

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