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Milva Pagano

A crise dos convênios e as fraudes de reembolso

Irregularidades podem comprometer sistema de saúde suplementar

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Milva Pagano

Advogada, é diretora-executiva da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica)

Muito se tem falado atualmente sobre as operadoras de saúde estarem passando por um período de crise financeira sistêmica. São diversos fatores que fizeram o setor acumular um prejuízo operacional de mais de R$ 11 bilhões. E essa crise afeta toda a cadeia produtiva, como dominós que caem um sobre o outro, podendo atingir também os 50 milhões de beneficiários em todo o país.

Não bastasse esse cenário deficitário, as fraudes que acometem o setor aumentam ainda mais os problemas financeiros já alarmantes. O setor menos observado nas discussões quando o assunto é quem perde com a crise das operadoras é o de medicina diagnóstica. Se nada for concretizado, também entrará no sinal vermelho, como hospitais e demais serviços de saúde.

A colored CT scan showing a tumor in the lung. Artificial intelligence was just as good, and sometimes better, than doctors in diagnosing lung tumors in CT scans, a new study indicates
Tomografia computadorizada mostra câncer de pulmão - Voisin/Science Source - Voisin/Science Source

Os convênios correspondem a 90% da receita da medicina diagnóstica e o que se notou, já no início deste ano, foi a acentuação das negociações de descontos sobre preços já contratados. Não é demais lembrar que a justa remuneração por serviços prestados influencia diretamente a qualidade dos serviços oferecidos aos beneficiários do sistema de saúde suplementar.

Fraudes geram crises no nosso setor e em setores correlatos. O prazo médio para pagamento de um exame pela operadora, que era de 81 dias no ano passado, este ano está em 109. Enquanto isso, a medicina diagnóstica desempenha um papel fundamental na cadeia de cuidado e não pode ser entendida apenas como despesa adicional. Uma das razões é que 70% das decisões médicas são baseadas em resultados de exames laboratoriais e de imagem.

Há relatos de pedidos de exames de clínicas e médicos que chegam a uma lista de até 60 tipos, antes mesmo da primeira consulta do paciente. E não temos razão em ganhar com pedidos de exames em excesso, sem justificativas médicas. Temos, sim, em oferecer qualidade para evitar desperdícios, pois também perdemos com essa situação. Qual seria o interesse?

Outra modalidade de fraude que vem gerando uma despesa galopante para as operadoras de saúde, ano após ano, é o famigerado reembolso sem desembolso. Isso inclui a cadeia de exames. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), entendeu, por unanimidade, que "o direito ao reembolso depende por pressuposto lógico que o beneficiário tenha efetivamente desembolsado previamente os valores com a assistência à saúde". A referência é a lei 9.656/98. Mas quem foi responsabilizado?

Os casos não parecem ser coibidos pela decisão. Resultado: queda na qualidade e submissão a operadoras de menor qualidade. A sociedade brasileira pode detectar o que é fraude e o que é oportunismo. É preciso mobilização de toda a cadeia e de empresas contratantes de planos de saúde em prol do sistema privado, ator importante do sistema de saúde brasileiro.

A Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) não coaduna, não concorda e não incentiva nenhuma oferta de benefícios financeiros, diretos e indiretos, por quaisquer instituições, aos profissionais de saúde que estejam atrelados ao volume de solicitação de exames e que possam configurar situações de incentivo à solicitação desnecessária de exames e violações à ética médica. Essa afirmação está no nosso Código de Conduta, compromisso de todos os associados.

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