Descrição de chapéu
O que a Folha pensa BNDES

Avanço estatal

Crédito sobe em bancos públicos, com distorção que reduz eficácia de ação do BC

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

0
Sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, no Rio de Janeiro (RJ) - Lucas Tavares/Folhapress

Pela primeira vez desde o início de 2016, os bancos públicos expandiram o crédito em velocidade superior à observada nas instituições nacionais privadas —13,8% contra 10,9% nos 12 meses até março.

É notável a inversão em relação a meados de 2021. Naquele momento, o ritmo de aumento no sistema privado correspondia a cerca de duas vezes e meia o das instituições financeiras estatais.

Diante das claras intenções do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de expandir os gastos públicos e promover maior ativismo dos bancos oficiais, tal evolução reforça temores de que sejam repetidos erros graves do passado.

Sob a petista Dilma Rousseff, a multiplicação de crédito subsidiado —com participação de mercado do sistema estatal chegando a superar 50%, ante 43% hoje— resultou em graves desequilíbrios.

Naquele momento, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal foram pressionados a atuar fora de suas especialidades, e o BNDES recebeu quase 10% do PIB em dinheiro público para repasses a taxas favorecidas e custeadas pelo Tesouro.

Além de contribuir para o rombo das finanças públicas e beneficiar setores a partir de critérios duvidosos, o aumento do crédito direcionado provocou redução da eficácia da política monetária.

Quanto maior o volume de empréstimos e financiamentos a juros insensíveis às ações do Banco Central, maior precisa ser a taxa Selic para o controle da inflação, prejudicando em demasia as famílias e empresas que dependem das linhas convencionais.

Tais fenômenos são bem documentados, embora deva-se ter em mente que os dados ainda não permitem inferir que o comportamento dos bancos públicos já resulta de nova orientação.

A ampliação das operações decorre justamente do peso do crédito direcionado. Nessa modalidade, a alta foi de 14% nos 12 meses até março e de 1,9% no primeiro trimestre ante o anterior.
Há forte aumento do financiamento agrícola, por exemplo, dados os resultados da safra de grãos.

Em paralelo, o aumento do custo vem contendo o crédito livre, que teve variação de 10,5% e -0,5% nas mesmas bases de comparação.

O que ocorrerá daqui para a frente vai depender da ação do governo. Sem novos subsídios, o crescimento mais forte do crédito favorecido tende a ser passageiro, conforme o Banco Central reduza a taxa básica, algo que se espera para o segundo semestre.

Há ensaios de retrocesso, em especial no BNDES, cujo comando indica o intento de interromper o processo de ajuste dos últimos anos. Mesmo que não se retome o ativismo tresloucado dos anos Dilma, a ideia é temerária.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.