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Saúde amazônica

Déficit de médicos na região ainda se mantém; política de longo prazo é vital

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Unidade Básica de Saúde (UBS) fluvial presta atendimento em Curralinho (PA) - Karime Xavier/Folhapress

Países de dimensões continentais cujos territórios contam com amplas áreas remotas, de natureza selvagem e de difícil acesso, enfrentam percalços para oferecer serviços de saúde pública de modo igualitário a toda população. Até mesmo nações ricas, como Canadá e Austrália, têm essas dificuldades.

No Brasil, o desafio é tão antigo quanto o próprio SUS, instituído pela Constituição de 1988. Não à toa, um dos princípios doutrinários do sistema é a regionalização, que busca descentralizar ações e serviços para atender necessidades específicas de cada região.

Historicamente, a Amazônia enfrenta problemas como infraestrutura precária e, principalmente, falta de profissionais de saúde.

O novo edital do programa Mais Médicos, relançado no começo deste ano, prevê a contratação de 1.869 médicos na região. Contudo, ainda que todas as vagas sejam preenchidas, o índice de profissionais por habitante chegará a um nível pouco superior à média do restante do país registrada há 16 anos.

Segundo levantamento feito pela Folha, a partir de dados do Ministério da Saúde referentes apenas a profissionais que atuam no SUS, em 2007 havia 0,58 médico por 100 mil habitantes na Amazônia Legal (estados do Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão), ante 1,01 no restante do país. Neste ano, a região tem 1,02, enquanto a média das demais saltou para 1,76.

Estima-se que seriam necessários mais 21 mil médicos na Amazônia para eliminar a disparidade.

Especialistas apontam que é preciso não só aumentar o número de profissionais mas aperfeiçoar a formação para o contexto de atuação. No caso, a atenção primária.

Em zonas remotas, geralmente apenas um médico fica responsável pelo cuidado da população. Habilidades generalistas e com foco em prevenção, típicas da área de saúde da família, podem diminuir a necessidade de especialistas e de procedimentos mais custosos.

A telemedicina também é capaz de ajudar na supervisão de médicos jovens —geralmente mais dispostos a passar um período de sua formação em áreas distantes— e no acesso a atendimento para casos mais complexos.

Não há solução imediata para a carência amazônica, mas é papel do poder público implementar medidas de longo prazo, diminuir distorções e, principalmente, não aumentá-las. Tratar a questão como política de Estado, não apenas de governo, seria o mais indicado.

editoriais@grupofolha.com.br

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