Descrição de chapéu
Beatriz Bracher

Combate ao tráfico de drogas está destruindo a América Latina

É preciso enfrentar com honestidade e inteligência a questão da criminalização

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Beatriz Bracher

Escritora e presidente do conselho do Instituto Galo da Manhã

Opinião sucinta de uma leitora de jornais que procura acompanhar com atenção o assunto, uma costura do que, de alguma forma, todos sabemos. Brasil, México, Colômbia e Equador são os exemplos mais evidentes de como grupos criminosos estão minando o poder dos Estados latino-americanos de governar sobre seus territórios.

Penso que o processo de crescimento do poder desses grupos nos outros países tenha muito em comum com o que acontece no Brasil.

Das áreas mais pobres das capitais, grupos criminosos vêm espraiando seu poder para o restante da cidade e para outras menores que, antes com baixos índices de criminalidade, transformam-se em municípios violentos.

0
Homem aponta arma em direção a funcionário da emissora TC, em Guayaquil, em invasão que ocorreu durante transmissão ao vivo - Reprodução Canal Alerta News 24 - Reproduçao Canal Alerta News 2

A partir do enriquecimento com o tráfico de drogas, esses grupos passaram a controlar outras redes criminosas em diferentes setores, desde a exploração sexual de meninas e mulheres à invasão de terras indígenas para a obtenção ilegal de madeira e minérios.

Como minar o poder dessas facções criminosas? Como proteger nossas democracias da brutalidade com método por elas exercida? Como proteger nossos jovens do caminho da violência e da morte? Como desbaratar um ser de mil tentáculos que não para de crescer e se emaranhar em mais e mais atividades ilegais? Cada vez mais potente, aquilo que o crime organizado toca vira rendimento para os criminosos e uma população subjugada, humilhada, ameaçada e morta.

Mesmo com a expansão de sua fonte de renda, parece ser evidente que o poder desses grupos vem principalmente de dois lugares: o dinheiro da venda de drogas e a mão de obra barata vinda das penitenciárias.

Como se dá, desde há muitos anos, o combate a esses grupos? Perseguição e prisão daqueles que levam a droga dos grandes vendedores aos consumidores. Essa forma de combate às drogas tem diminuído o poder dos grupos criminosos? Não.

Essa forma de combate tem mantido o preço das drogas alto, aumentando o ganho dos grandes traficantes?; abarrotado as penitenciárias com mais mão de obra para os grupos criminosos?; povoado as periferias com armas de maior poder ofensivo que as das forças de segurança?; alastrado a violência para o Brasil inteiro, capitais e interior, norte, sul, leste e oeste, Amazônia e sertão?; tornado nossa polícia cada vez mais corrupta?; favorecido a eleição de políticos comprometidos com o crime organizado?

A resposta a essas perguntas é sempre "sim". Além de disseminar a violência, esse modelo de combater o tráfico não tem cumprido seu primeiro objetivo: diminuir o volume de entorpecentes em circulação.

O combate ao tráfico de drogas está alimentando o tráfico de drogas e ameaçando de morte nossos países.

Não sei apontar uma solução. Certamente, no ponto em que o crime organizado chegou, ela não é simples e deverá agregar diferentes ações, unificando as políticas de segurança dos estados e da União com outros países da América Latina.

Mas não tenho dúvida de que um dos passos para a solução passa pela discussão séria e despida de preconceitos a respeito da descriminalização das drogas. Por mais difícil que seja, não podemos nos acovardar: é preciso enfrentar com honestidade e inteligência o problema da criminalização das drogas e seu efeito no crescimento do crime organizado.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.