Perto de um mês atrás, a agência Reuters destacou, sobre a pesquisa anual do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford, que "menos pessoas confiam na mídia tradicional e mais pessoas recorrem ao TikTok para obter notícias".
Essa derrocada na confiança, que vem de anos, é o que move o debate jornalístico contemporâneo. Foi proposta uma saída extrema: o abandono da busca de objetividade e independência, para um choque de transparência que permita partir daí para retomar a confiança em bases mais firmes.
O New York Times, jornal de referência no mundo e sob risco de virar o único, como tal, nos Estados Unidos, abriu resistência e vem buscando dar provas de distanciamento em relação à Casa Branca, Ucrânia, Israel e sua própria Redação, em coberturas de temas como trans.
Sob ameaça de nova Guerra Fria, o debate interessa ao resto do mundo, até porque não tem como ver com os mesmos olhos as fontes de informação da Guerra Fria anterior. Tome-se a Reuters. A agência de 171 anos busca a neutralidade com tamanha dedicação que veta usar a expressão terrorista, a não ser como citação de alguém.
Ou pelo menos era o que se acreditava até uma solicitação de Martin Rosenbaum, jornalista especializado em ferramentas de acesso à informação, então na BBC, retornar com uma revelação insólita.
O governo britânico financiou, através de repasses realizados pela própria BBC, a cobertura de América Latina da agência nos anos 1960 e 70, em meio às ditaduras militares e à interferência externa, inclusive do Reino Unido.
Entre os documentos, como registrado neles, "um acordo para fornecer apoio discreto do governo para os serviços da Reuters no Oriente Médio e na América Latina", inclusive com o registro de que "os interesses do governo de Sua Majestade serão bem atendidos pelo novo arranjo".
Os documentos mostram que o Reino Unido e aliados queriam "reforçar sua influência contra a União Soviética através da expansão dos serviços de notícias ao redor do mundo".
Foi o que a Reuters reconheceu, sem ir além do que Rosenbaum havia revelado. Por exemplo, sem esclarecer como os interesses de Sua Majestade teriam sido atendidos pelo jornalismo que produziu à época, na América Latina.
A agência chegou a manifestar que o acordo "não era condizente com nossos Princípios de Confiança", antes que a questão toda fosse esquecida em meio à pandemia de Covid-19.
Quanto a Rosenbaum, ele lançou o livro "Freedom of Information", liberdade de informação, em que busca mostrar "como extrair informações de líderes políticos e funcionários públicos", um manual com conselhos como "seja persistente".
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