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Zeca Dirceu e Washington Quaquá

África está entre os maiores parceiros potenciais para o Mercosul

Bloco econômico não pode perder grandes negócios com base em preconceitos

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Zeca Dirceu

Deputado federal pelo Paraná, líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados e membro do Parlamento do Mercosul (Parlasul)

Washington Quaquá

Deputado federal (PT-RJ) e vice-presidente do partido

Diante das dificuldades quase incontornáveis de um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, o bloco sul-americano deve ampliar seus horizontes com outros agrupamentos econômicos e regiões. Nesse sentido, não há tempo a perder: a África, nossa vizinha, inclui-se entre os maiores parceiros potenciais com que Brasil e os países sócios do Mercosul devem se aproximar.

O governo do presidente Lula já redefiniu a política de reaproximação com o continente africano, depois do afastamento absurdo promovido pelo governo neofascista passado. Os 54 países da África passam por um momento de grande transformação, com atrativos econômicos que têm despertado o interesse de diferentes nações. Esse impulso ao relacionamento promovido pelo governo brasileiro deve ser replicado como política unificada do bloco do Cone Sul.

Presidente Lula participa da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Puerto Iguazú, na Argentina - Ricardo Stuckert/PR

De fato, surge no horizonte a perspectiva de negociação de acordo de livre comércio do Mercosul com a Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA). Essa área é importante, pois cria um mercado potencial de 1,4 bilhão de pessoas. A expectativa, segundo a consultoria McKinsey, é de que se crie um mercado consumidor de quase US$ 5,5 trilhões em 2030. O Produto Interno Bruto (PIB) do continente africano deverá crescer 4% neste ano e 3,8% em 2024, prevê a Organização das Nações Unidas (ONU).

A aproximação com o continente africano é questão estratégica. O bloco não pode correr o risco de perder mais fatias do mercado africano, como já aconteceu com o Brasil no período recente. Atualmente, o Mercosul tem acordo com a Sacu (União Aduaneira da África Austral formada pela África do Sul, Namíbia, Botsuana, Lesoto e Suazilândia). Há também um com o Egito. Ambos os acordos são um exemplo do que pode ser feito com o restante da África.

A presença ampliada do Mercosul necessita, entre outras coisas, da superação de distorções disseminadas nos últimos anos pela extrema direita a respeito do financiamento a exportações. No caso específico brasileiro, conforme lembra o presidente da Apex, Jorge Viana, houve deturpação do que é esse tipo de operação.

Ora, a China e EUA financiam pesadamente as exportações. Há 110 agências de financiamento a exportações no mundo. O Brasil, assim como seus parceiros do Mercosul, não pode ficar refém do preconceito e dos ataques de cunho político e ideológico contra o sistema de financiamento a exportações só por causa de problemas com um ou outro país.

Não podemos perder grandes negócios com base em preconceitos. No setor de máquinas e equipamentos de transportes, por exemplo, o mercado africano é promissor. O Mercosul dispõe de diferentes tecnologias e produtos de interesse dos africanos. Equipamentos agrícolas e industriais, técnicas agropecuárias, engenharia de construção, turbinas hidroelétricas, além de vasto campo de cooperação profissional em áreas como saúde, educação, meio ambiente, formação de mão de obra etc.

A corrente de comércio anual da África supera US$ 1 trilhão, com participação marginal do Cone Sul. A África é vizinha e ainda tem afinidade cultural, em especial com o Brasil, mas do ponto de vista econômico e comercial está distante de nossa região. Em contraste, a China, país do outro lado do planeta, está cada vez mais presente, com atividade frenética em todas as áreas.

No meio diplomático, já há quem defenda a realização de uma reunião de cúpula entre dirigentes do Mercosul e da África para lograr um arrojado Acordo de Livre Comércio. A aproximação do Cone Sul com a África pode se tornar um dos maiores exemplos globais de cooperação Sul-Sul, com grandes benefícios recíprocos.

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