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Joana Monteiro e Ramón Chaves

Uso de dados e apoio da sociedade civil favorecem segurança pública

Temos poucas ações estratégicas em segurança ancoradas em evidências científicas

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Joana Monteiro

Doutora em economia, professora da FGV/EBAPE

Ramón Chaves

Mestre em sociologia

Nas últimas décadas, o crescimento do crime organizado violento se tornou um dos principais desafios para o desenvolvimento de países latino-americanos. Atualmente, inúmeras cidades brasileiras estão submetidas à presença de grupos armados que dominam territórios, exploram negócios lícitos e ilícitos, achacam populações e influenciam a vida cotidiana e os processos eleitorais.

Nossas instituições não estão preparadas para responder a esse desafio. Embora exista uma estrutura de repressão ao crime, sua operação é errática e centrada em indivíduos. Há poucas intervenções dedicadas a compreender e desarticular o modo de atuação desses grupos, as redes de proteção a que eles recorrem e os mercados criminais que exploram.

Além da ineficiência administrativa brasileira, parte dos agentes estatais mantém vínculos com organizações criminosas em diversos níveis e formas, o que fragiliza os atores competentes e reduz o alcance das boas iniciativas.

Armamento apreendido com milicianos na zona oeste do Rio de Janeiro - 7.mar.24/Polícia Civil do RJ no X

Transformar essa realidade não é tarefa fácil, pois as respostas ao problema não estão dadas a priori. Mas há duas linhas de ação, ainda pouco exploradas no Brasil, que devem ser perseguidas.

A primeira delas é utilizar a ciência de dados como um instrumento para aumentar o foco e a efetividade na segurança pública, especialmente para identificar padrões na atividade criminal, qualificar as ações investigativas, promover a integração entre bancos de dados e criar indicadores para gestão por resultado das instituições de segurança pública e de justiça criminal.

A segunda linha de ação consiste em canalizar o apoio da sociedade civil e da comunidade empresarial a gestores públicos interessados na concepção e implementação de estruturas inovadoras e resolutivas.

Em geral, a capacidade de gestores públicos para efetuar mudanças é limitada pela duração da janela política dos cargos que ocupam. Por isso é essencial apoiá-los não só no desenho das transformações institucionais mas na avaliação, consolidação e disseminação dos avanços realizados.

Por meio de um processo iterativo de concepção e teste de intervenções viáveis e escaláveis, é possível identificar formas incrementais de reduzir problemas sociais complexos e fortalecer nosso sistema institucional.

Mais do que nunca, é importante traduzir a centralidade que a segurança conquistou na opinião pública em ações estratégicas, ancoradas em dados e evidências científicas. A rigor, pouquíssimas ações dessa natureza já foram desenhadas e implementadas no Brasil, o que é fonte de preocupação, mas também de oportunidades.

Há muito espaço para melhora.

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