Ciência, prática e os sistemas de saúde

Dados gerados pela prática médica devem ser estruturados e compartilhados

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Sandro Marques

PhD, pesquisador colaborador da Stanford University

Robson Capasso

MD, professor da Stanford University e membro do Derrubando Muros

Artigo publicado nesta seção em 5 de junho ("A quem interessa a morte da saúde privada?") sugere que a redução dos custos da saúde passa pela restrição ao acesso a consultas e novas terapias.

Concordamos que existe urgência na evolução do debate, mas sugerimos uma visão alternativa, baseada em uma tríade.

A ciência: geração de evidência por meio de estudos clínicos, com rigorosa análise de dados, revisão por pares e publicação de resultados. Com base nesse processo desenvolvem-se as intervenções (equipamentos, fármacos etc.) avaliadas e aprovadas por órgãos reguladores como a Anvisa.

A prática: exercício dos profissionais da saúde, levando-se em conta a melhor evidência científica disponível, a experiência do profissional e as características do paciente.

Os sistemas de saúde: incluem as políticas, empresas, instituições públicas e privadas e profissionais dedicados à prevenção, tratamento e gestão da saúde individual e populacional.

O sucesso inicial dessa tríade teve como "efeito colateral" o aumento global da expectativa de vida; por consequência, o número e a complexidade de pacientes com doenças crônicas também aumentaram. Isso resultou na exaustão dos recursos da saúde, já fragilizados pelo surgimento de novas doenças e epidemias. Todos, incluindo a população e profissionais da saúde, estão ansiosos e insatisfeitos com o quadro atual.

Portanto, a saúde, já fragmentada e com integração deficiente de tecnologia e pouca transparência, precisa ser reformulada. Nesse contexto, restringir o acesso a profissionais da saúde ou a terapias comprovadamente eficazes não pode ser parte da estratégia. A solução não é simples, mas alguns passos são claros.

O SUS deve receber mais recursos, com atuação intensa na promoção da saúde e prevenção de epidemias.

O financiamento da ciência deve priorizar desfechos clinicamente relevantes, adequados às necessidades de populações com características heterogêneas e vislumbrando o acesso amplo a futuras descobertas. Recrutamento por plataformas digitais e geração de dados econômicos durante ensaios clínicos serão essenciais.

A prática da medicina gera uma quantidade imensa de dados (demografia, características clínicas, medicamentos, procedimentos, gastos), que se encontram subutilizados e desintegrados entre o SUS, seguradoras, prestadores de serviço, clínicas, farmácias e hospitais.

Esses dados devem ser estruturados e compartilhados entre todos com segurança e respeito às leis de privacidade. Transparência radical, com acesso a métricas de qualidade, custo e eficiência a todos os participantes e usuários.

O objetivo maior deve ser o acesso à saúde de qualidade por aqueles que mais precisam, não somente por quem pode pagar. Os efeitos secundários serão a geração de conhecimento, inovação, competitividade, novos empreendimentos e modelos de remuneração baseados em resultados.

A sociedade agradece!

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