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Vergonha mundial

Índice de mortalidade materna brasileiro piorou com a pandemia, mas já era ruim

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Enfermeira faz exame pré-natal em indígena da aldeia Amambai, no Mato Grosso do Sul - Juca Varella/Folhapress

O Brasil é um país de contrastes. Ao mesmo tempo em que há bolhas sociais de riqueza voluptuosa, metade da população nem sequer tem acesso à rede de esgoto. Outra área na qual a desigualdade extrema fica patente é a da saúde, notadamente a materna. Nesse quesito, temos números similares aos da África subsaariana.

Pelo indicador de razão de mortalidade materna (RMM), que computa óbitos relacionados a complicações na gravidez e em até 42 dias após o parto, a cada 100 mil nascidos vivos, houve 110 mortes de mulheres em 2021 no país.

Em Roraima, a RMM foi de incríveis 281,7, índice similar ao de Moçambique —que, segundo o FMI, tem um PIB per capta em torno de US$ 1.200, enquanto o do Brasil é cerca de US$ 15.000. O estado com menor taxa de óbitos foi Pernambuco, e mesmo assim atingiu 61. Nos países desenvolvidos, a média é de apenas 10.

A mortalidade materna no Brasil aumentou durante a pandemia de Covid-19, que impactou o sistema de saúde. Gestantes enfrentaram dificuldades para conseguir vagas para internação ou em UTIs.

Se, em 2020, a taxa de mortes foi de 71,9, em 2021, chegou-se a 100, ante 57,9 em 2019, antes da crise sanitária. O impacto foi generalizado.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2018 e 2021, a RMM entre brancas passou de 49,9 para 118,6. Entre as negras, foi de 104 para 190,8 mortes por 100 mil, a maior entre todos os grupos étnicos. Há ainda, portanto, desigualdade social e racial patente no atendimento à saúde das brasileiras.

Segundo especialistas, 90% dessas mortes seriam facilmente evitáveis com atendimento pré-natal, já que a maioria dos óbitos deve-se a problemas cardiovasculares e à hipertensão. Mas o Brasil falha nessa tarefa mesmo antes da pandemia.

Levantamento do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde mostra que, em 2014, 52,9% das gestantes negras do Norte do país não tiveram acesso ao pré-natal, ante 21,7% entre brancas do Sudeste.

A Covid-19, assim, piorou o que era ruim. Em 2015, o país já havia assinado com a ONU acordo de redução do RMM para 30 até 2030.

Mas, segundo relatório do Ministério da Saúde obtido pela Folha, há 95% de probabilidade de que essa meta não seja alcançada —a razão projetada para 2030 é de 55,6 mortes por 100 mil nascidos vivos.

Incrementos na oferta de pré-natal, considerando disparidades por região e raça, pelo menos contribuiriam para diminuir esse índice de mortalidade vexatório.

editoriais@grupofolha.com

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