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Dilemas de Macron

Onda de protestos cria riscos para centro na França, onde radicais se fortalecem

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Manifestantes usam fogos de artifício contra policiais durante protestos em Paris (França) - Gonzalo Fuentes/Reuters

Emmanuel Macron nunca foi unanimidade entre os franceses. Ainda assim, foi eleito presidente duas vezes. O segredo de seu sucesso está no adversário: em ambos os pleitos, disputou o segundo turno com a ultradireitista Marine Le Pen. Na França, há o relativo consenso de que a extrema direita não deve assumir a Presidência.

O problema é que esse entendimento é declinante. Em 2017, Macron venceu o segundo turno com 65,8% dos votos; em 2022, foram 58,6%. É nesse contexto que se deve analisar a onda de protestos violentos que vem varrendo o país.

As manifestações tiveram início depois que um policial matou um adolescente de ascendência magrebina. Não são, portanto, reação a uma política do governo, como foram os atos contra a reforma da Previdência em março.

Segundo o sociólogo francês Sebastian Roché, em entrevista à Folha, Macron pretende enfrentar a situação com mão pesada para não dar à extrema direita o discurso de que o governo é fraco, incapaz de controlar distúrbios violentos.

O presidente cogita tomar medidas controversas, como responsabilizar os pais por ações dos filhos, já que são majoritariamente jovens que participam dos protestos.

Ao pautar-se pela direita, Macron afasta-se mais um pouco da centro-esquerda, importante para suas vitórias, e tende a normalizar o discurso de Le Pen, o que contribui para torná-la menos "inaceitável".

A situação do centrismo na França é difícil não só por armadilhas como essa, mas também pela repetição de crises que vêm erodindo a popularidade do governo.

Antes da atual onda, houve protestos contra a Previdência e, ainda antes, os dos coletes amarelos. Mesmo considerando que manifestações fazem parte da cultura francesa, tais eventos potencializam o desgaste natural do exercício do poder ao longo de dois mandatos.

Macron não poderá disputar um terceiro pleito em 2027. Assim, seu grupo político, ou outra força mais ao centro, ainda terá de fabricar um candidato competitivo.

Já nos extremos, a situação é diferente. Le Pen e seu partido vêm crescendo a cada eleição, chegando a 23% dos votos no primeiro turno de 2022. Algo parecido vale para a esquerda mais radical, liderada por Jean-Luc Mélenchon —em terceiro lugar no ano passado, com 22%.

Importa saber se a França continuará a ser uma nação que consegue driblar a radicalização política ou se também sucumbirá a ela.

editoriais@grupofolha.com.br

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