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Guerra contra a ciência

Queda na produção científica brasileira é reflexo de negacionismo sob Bolsonaro

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Laboratório do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, em São Carlos (SP) - Juca Varella/Folhapress

Demorará muito para o país traçar balanço completo dos retrocessos do governo Jair Bolsonaro (PL). Alguns setores, como a pesquisa científica, padecem por anos mesmo após cessarem investidas doidivanas contra eles —e já em 2022 tais ataques produziram queda alarmante na ciência nacional.

Levantamento da Agência Bori, que conecta jornalistas com instituições de pesquisa, e da Elsevier, editora global de publicações acadêmicas, detectou no Brasil a maior redução no número de artigos científicos, entre 51 países analisados. Assim como na Ucrânia, houve, no ano passado, recuo de 7,4% na produção de estudos.

Entraram em consideração nações que tivessem publicado ao menos 10 mil artigos em 2021, quantidade comparada então com o acervo de 2022. Os 21 países incluídos respondem por 95% da produção científica mundial.

O fato de o país resvalar para a pior colocação, ao lado de um país invadido pela Rússia, carrega simbolismo acabrunhador. Aqui, pesquisadores se viram encurralados por políticas públicas de Jair Bolsonaro (PL) —presidente que, por exemplo, colocou de joelhos o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) por irritar-se com dados sobre o desmatamento.

Pode-se alegar que o retrocesso resultou da pandemia. No entanto, a Covid flagelou o mundo todo, e nem por isso a pesquisa sofreu tanto em outros países.

Os Estados Unidos, por exemplo, também deram passo atrás na sua produção, mas de apenas 1,5%. A China, epicentro da crise sanitária, avançou 22,5%, e a Índia teve alta de 9,6% —indicando mudanças em curso no panorama internacional de excelência científica.

EUA e Brasil eram então governados por mandatários omissos diante da pandemia e despontaram como nações mais impactadas pelo vírus, respectivamente com 1,12 milhão e 700 mil mortos. Os golpes de Bolsonaro contra a ciência não se limitaram a atacar vacinas e desacreditar cientistas.

O ex-presidente cortou fundos de pesquisa e reduziu bolsas. Manietou universidades federais, onde se realiza boa parte da investigação acadêmica, instalando no MEC uma sucessão de celerados.

Dilapidou, assim, capital humano e massa crítica acumulados por décadas, que levaram o Brasil à 14ª posição mundial em produção no setor. Resultado: pela primeira vez desde 1996, o país teve queda anual em estudos publicados.

editoriais@grupofolha.com.br

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