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Luiz Francisco Vasco de Toledo e Mauro Garcia

O audiovisual como soft power

O setor ocupa a quinta posição em importância na economia do Brasil

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Luiz Francisco Vasco de Toledo

Doutor em administração pública e governo

Mauro Garcia

Presidente-executivo da Bravi – Brasil Audiovisual Independente

Em 1994, o lançamento de "Jurassic Park" na Coreia do Sul marcou o início de uma transformação industrial no país. A receita de bilheteria desse único filme americano representava uma perda equivalente à exportação de 1,5 milhão de carros Hyundai. Esse alerta despertou o governo sul-coreano, pavimentando o caminho para que "Parasita" fosse consagrado o melhor filme no Oscar 2020.


A indústria audiovisual é uma poderosa força criativa. Estimula a criatividade, gera empregos, impulsiona o crescimento econômico e molda a cultura por meio das histórias que compartilha. Ao contrário da indústria automobilística, gera baixo impacto ambiental e tem nas ruas o seu local de produção.

Cerca de 67% dos gastos de uma produção cinematográfica são direcionados a outros setores, como hotelaria, gastronomia, serviços jurídicos, financeiros e transporte. Há ainda o poder singular de exportação da cultura e do pensamento de um país, o soft power, que impacta diretamente o turismo. A cidade de Nova York é um exemplo disso.

Pesquisa do Itaú Cultural mostra a importância da economia da cultura para o PIB do país, revelando que os recursos gerados pela moda, design, música, audiovisual e outros são mais relevantes que indústrias importantes. Segundo o estudo, o PIB da economia da cultura e das indústrias criativas corresponde a 3,11% do total, ultrapassando os 2,5% da indústria automobilística.

O setor audiovisual ocupa a quinta posição em importância na economia (dados de 2020 da Ancine). Supera as indústrias farmacêutica, têxtil e de equipamentos eletrônicos.

Os impactos da pandemia nesse setor tornaram mais evidente a assimetria de poder econômico. Enquanto produtoras locais criam projetos, com bons roteiros, recursos técnicos e talentos criativos, grandes estúdios e plataformas compram os direitos dessas obras, que ganham selo de conteúdo original dessas empresas, pois não seriam viabilizadas sem os recursos dos estúdios americanos. Sinal de que o modelo de financiamento deve ser repensado e tratado de forma estratégica como outros setores que se beneficiam de incentivos, enquanto resguarda a propriedade intelectual.

O jogo não está perdido. Há avanços, como a política lançada pela Prefeitura de São Paulo, com apoio estadual, que restitui parte dos gastos de produções internacionais feitas no estado ("cash rebate"), incentivo usado em todo o mundo. Uma ferramenta que fortalece o poder das produtoras locais, que chegam à mesa de negociação com os estúdios oferecendo uma contrapartida de até 30% do orçamento final do projeto.

É hora de desenvolver talentos, aumentar a infraestrutura dos estúdios, qualificar mão de obra, baratear importação de insumos, como câmeras de alta definição, e facilitar o acesso a linhas de crédito públicas e privadas. O ano de 2023 coloca o Brasil em pé de igualdade com países que mais investem no audiovisual, como EUA, Espanha e Coreia do Sul. A não utilização de parte do Fundo Setorial do Audiovisual em 2022 (cerca de R$ 1 bilhão), juntamente com o orçamento para este ano (mais de R$ 1 bilhão), e os R$ 2,8 bilhões a serem investidos no audiovisual por estados e municípios, graças à Lei Paulo Gustavo, são oportunidade única para um desenvolvimento irreversível.

Precisamos olhar para a nossa indústria com irrefreável disposição para aumentarmos nossas vantagens competitivas. Passo importante foi a entrada do audiovisual no Conselho de Desenvolvimento Industrial, ao lado de outros setores da economia, representado pela Bravi.

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