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Corte correto

Redução do juro a 13,25% tem base técnica; normalização exige equilíbrio fiscal

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Brasília, 02/08/2023 - Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, em Brasília (DF) - Raphael Ribeiro/BCB

Em decisão tomada por margem estreita, de 5 votos a 4, o Banco Central decidiu reduzir em 0,5 ponto percentual a sua taxa de juros, para 13,25% ao ano —foi preterida a opção de corte menos ambicioso, de 0,25 ponto percentual.

O voto de desempate foi do presidente do BC, Roberto Campos Neto, o que, ao menos em tese, contribui para dissipar tensões políticas em torno da medida.

É esperado que a divergência de opiniões no Comitê de Política Monetária seja mais frequente de agora em diante, uma vez que há diretores indicados por governos diferentes. O fato deve ser encarado com naturalidade.

Para o momento, de todo modo, o afrouxamento tem dimensão adequada. Há razões objetivas a sustentá-lo, em particular as evidências de desaceleração da economia, a redução das incertezas em torno da gestão das contas públicas com a iminência da aprovação do novo marco fiscal e a queda das expectativas para a inflação.

Quanto ao último ponto, foi essencial a decisão do Conselho Monetário Nacional, destacada no comunicado do BC, de fixar a meta para o IPCA de 2026 em 3%, mesma cifra dos próximos dois anos.

A definição contribuiu para melhorar nas últimas semanas as projeções de analistas de mercado para a elevação dos preços, embora ainda estejam em 3,89% para 2024 e 3,5% para os dois anos seguintes —acima da meta, portanto.

Depois de números surpreendentes da atividade econômica do primeiro trimestre, que levaram ao aumento das estimativas para a variação do Produto Interno Bruto em 2023 de 1,3% para 2%, a perspectiva agora é de perda de ritmo.

Há estagnação no varejo e na indústria, enquanto se esgota o impulso que sustentou os serviços desde o fim da pandemia. O crédito escasso ameaça piorar as condições de muitas empresas.

Entende-se, assim, a indicação unânime do colegiado de reduções continuadas de 0,5 ponto por reunião, a permanecerem as tendências atuais, que devem perdurar pelo menos até que a taxa Selic se aproxime dos 10%, o que ainda seria um patamar contracionista.

Daí em diante, tudo dependerá da boa condução geral da política econômica do governo, algo longe de garantido. Embora o novo marco fiscal tenha limitado o espaço para crescimento desmesurado de despesas, a alta já contratada além do necessário não ajuda o controle da inflação.

É cedo, portanto, para considerar que as políticas fiscal e monetária estão em harmonia. Se o BC deve caminhar para menos restrições no custo do dinheiro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisa dar sinais mais claros de que cumprirá com sua parte.

editoriais@grupofolha.com.br

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