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O legado do papa

Em disputa com conservadores, Francisco defende bênção a casais homossexuais

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Papa Francisco reza a missa de abertura do Sínodo dos Bispos, no Vaticano - Vatican Media/Reuters

Aos 86 anos, o argentino Jorge Mario Bergoglio parece decidido a imprimir uma marca progressista a seu papado, iniciado há dez anos sob o nome de Francisco.

O termo, claro, é relativo. A Igreja Católica, maior denominação cristã do mundo com 1,36 bilhão de fiéis, não é dada a revoluções —e nisso se encerra, deve-se dizer, parte do segredo de sua longevidade e influência.

Entretanto as demandas do mundo moderno têm acelerado os movimentos reformistas desde o grande divisor de águas que foi o Concílio Vaticano 2º, nos anos 1960.

Aquele encontro atualizou algumas práticas da igreja e, fundamentalmente, lançou bases para uma pendular dinâmica de rivalidade entre os ditos progressistas e os conservadores.

Francisco é um expoente da primeira ala, tendo sucedido a um papa ultraconservador, o alemão Bento 16.

Acusado de populismo por detratores, que resgatam sua origem no ambiente peronista argentino, ele busca abordar temas sensíveis na área comportamental desde o início do pontificado.

Deu declarações simpáticas a homossexuais, por exemplo, e envolveu-se em 2017 numa disputa aberta com cardeais tradicionalistas.

Liderados pelo americano Raymond Burke, eles tornaram pública consulta interna ao papa acerca da comunhão a divorciados que vivem novos relacionamentos, sugerida por Francisco. Ficaram sem resposta e expuseram a fratura.

Agora, o mesmo Burke e outros quatro colegas questionam bênçãos a casais homoafetivos, cada vez mais comuns na Europa. Bergoglio deu o troco: não apenas defendeu a hipótese como fez o Vaticano publicar suas respostas.

O papa mede palavras e deixa claro que não se trata de apoiar o casamento gay, inaceitável para a doutrina. Mas antecipa o tom dos debates daquele que deve ser o principal veículo para o que pretende deixar à história, o Sínodo dos Bispos, iniciado nesta quarta (4).

No encontro hospedado no Vaticano, pela primeira vez mulheres poderão votar —54 em 365 eleitores. As temáticas incluem permissão para que diáconos, a primeira etapa na carreira eclesiástica, sejam do sexo feminino, questões relativas a grupos LGBTQIA+ e ordenação de homens casados.

O palco, portanto, está dado para um novo, e talvez decisivo, embate público entre Francisco, um progressista que acompanha o ritmo lento de sua fé, e seus oponentes.

editoriais@grupofolha.com.br

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