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O que a Folha pensa Argentina

Parte da paisagem

Nova direita veio para ficar; cumpre combater riscos e compreender seus anseios

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Eleitores comemoram a vitória de Javier Milei na eleição para presidente da Argentina - Luis Robayo/AFP

A vitória de Javier Milei na Argentina e a perspectiva realista do retorno de Donald Trump à Casa Branca reforçam a hipótese de que uma nova direita popular e populista, que emergiu em meados da década passada, tornou-se parte da paisagem das democracias ocidentais.

O fato de o fenômeno favorecer a cavalgada de outsiders —e de apoiar-se na máquina artificiosa de decantar rivalidades das redes sociais— pode ter causado a impressão inicial de que seria passageiro. É forçoso reformar essa visão diante das evidências.

Se a era dos aventureiros não se dissipou, é porque a massa de eleitores que os sustenta cristalizou preferências convergentes com as ideias que eles propagam. Simplesmente tachar de ignorante esse volumoso contingente de cidadãos ofende o espírito republicano.

A melhor abordagem passa pelo reconhecimento de que se trata de decisões de voto tão refletidas e responsáveis quanto quaisquer outras. Compreender motivos e implicações dessas escolhas e ampliar o debate público ajuda a aperfeiçoar o regime democrático.

Os riscos mais evidentes da consolidação dessas correntes direitistas repousam na sua inclinação ao autoritarismo e à violência. A pregação agressiva contra o statu quo por vezes atiça a ilusão de que ações diretas do líder ou de multidões poderão acelerar a consecução de seus objetivos.

Nesse capítulo não há o que negociar. Aplica-se a lei aos delinquentes, como ocorreu com quem ousou invadir e depredar prédios de governo em Washington e Brasília, e antepõe-se a força das instituições de controle à intentona cesarista do mandatário.

Esse eleitorado, por outro lado, expressa anseios dignos de respeito, que deveriam fomentar autocrítica. É o caso do mal-estar pelo enclausuramento de autoridades, elites e representantes num círculo de pompa e privilégios distante da maioria da população.

Outro elemento a ser sopesado, derivado do anterior, é a cobrança de que as burocracias sirvam com eficiência aos cidadãos que as financiam e de que regramentos excessivos e prevenções ideológicas não esmaguem direitos como o de empreender e de se expressar.

O princípio fundamental dos regimes abertos da soberania da legalidade, devendo todos ser tratados com isonomia, concorre seja para afastar as ameaças carreadas pela ascensão da nova direita, seja para assimilar as queixas legítimas do movimento.

Abrir um diálogo franco nesses termos, respeitadas as divergências políticas, fará bem ao Brasil e a outras democracias que encaram desafio semelhante.

editoriais@grupofolha.com.br

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