Descrição de chapéu
O que a Folha pensa América Latina

Colômbia insegura

Escalada de sequestros desafia política de paz total do governo de esquerda

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Gustavo Petro, presidente da Colômbia - Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

Não tem sido fácil o primeiro ano de mandato de Gustavo Petro na Colômbia. O esquerdista enfrenta dificuldades para aprovar reformas no Legislativo e teve membros do governo envolvidos em casos de abuso de poder e corrupção.

Agora, enfrenta problemas na segurança pública. Ex-guerrilheiro, Petro se elegeu com a promessa de "paz total", baseada em mudança de foco no combate ao tráfico para o desenvolvimento agrário e acordos com grupos armados.

Entretanto o número de sequestros no seu primeiro ano de governo aumentou 83% ante os 12 últimos meses da gestão de centro-direita do antecessor, Iván Duque. As extorsões tiveram uma alta de 27%, enquanto a quantidade de homicídios mostrou queda ínfima.

Nos anos 1960, grupos guerrilheiros de matriz marxista, como as Forças Armadas Revolucionárias (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), surgiram no país na esteira da Revolução Cubana. Ao longo das décadas, porém, juntaram-se ao narcotráfico.

Em 2016, o então presidente Juan Manuel Santos firmou acordo de paz com as Farc, que abandonaram a armas em troca de concessões políticas. Em junho deste ano, Petro acertou um cessar-fogo de seis meses com o ELN . O acordo estipula que as partes não podem atacar, apenas defender-se.

Todavia o ELN alega —descaradamente— que sequestros não são ataques, mas formas de angariar fundos. Além disso, guerrilhas e narcotraficantes aproveitaram a política de paz para adquirir armas e incrementar estruturas.

Novas abordagens que não se baseiem apenas no belicismo da "guerra às drogas" são bem-vindas, porém é temerário esvaziar a segurança. Segundo estudo da ONG colombiana Fundação Ideias para a Paz, o abrandamento no combate ao crime é acompanhado pela alta da violência.

Em outubro de 2020, o número médio mensal de operações das forças de segurança em 12 meses era de 17,1, enquanto o de confrontos entre grupos armados ilegais não passava de 4,8. Em outubro de 2023, a primeira média caiu para 7, e a segunda subiu a 7,4.

Petro diz que mudar a rota agora "abriria caminho para um novo ciclo de violência", mas os colombianos já demonstram cansaço. Para 37% deles, as negociações com a ELN devem continuar, ante 53% que são contra. Num país onde a esquerda no poder é novidade, as cifras são inquietantes.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.