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Tensão colombiana

Em meio a escândalo e obstáculos, Petro insiste em discurso persecutório

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Gustavo Petro, presidente da Colômbia, discursa para apoiadores, em Bogotá - Juan BarretoAFP

O regime presidencialista exige que o Executivo submeta suas propostas ao Legislativo e, caso o partido no governo não tenha maioria para aprová-las, é crucial formar coalizões. Não basta vencer eleições, é preciso buscar governabilidade.

Com o fenômeno da polarização política, presidentes da América do Sul, hoje majoritariamente de esquerda, têm encontrado obstáculos maiores nessa seara.

Na Colômbia, Gustavo Petro, primeiro esquerdista eleito para o comando do país, não apenas tem tido trabalho hercúleo para aprovar suas propostas como agora se vê enredado em um caso rocambolesco envolvendo abuso de poder e denúncias de corrupção de aliados.

Seu governo tem projetos para mudar regulações trabalhistas, previdenciárias, da Justiça e do sistema de saúde, mas não consegue obter apoio suficiente. O escândalo recente agrava esse quadro.

No domingo (4), vieram à tona áudios supostamente enviados pelo coordenador da campanha eleitoral de Petro e depois embaixador na Venezuela, Armando Benedetti, a Laura Sarabia, ex-chefe de gabinete da Presidência —ambos acabaram de perder os cargos.

O diplomata teria ameaçado revelar um financiamento ilegal na campanha de 15 bilhões de pesos (cerca de R$ 17 milhões) caso suas demandas não fossem atendidas.

Petro afirma que sua campanha foi legal, enquanto incita protestos populares a seu favor, como já havia feito para aprovar a reforma da saúde —o que contribui para a turbulência política e a polarização.

Ademais, diz-se perseguido pelo Judiciário e usa a temerária expressão "golpe brando" para se referir a investigações judiciais. Em comentário sobre o procurador-geral da República, Francisco Barbosa, a quem trata como adversário, afirmou ser "o chefe de Estado, portanto, chefe dele".

A aprovação de sua gestão, iniciada em agosto do ano passado, passou de 50% em novembro para 34% em maio, segundo uma pesquisa de opinião local.

Na quarta-feira (7), políticos de diversos países divulgaram um manifesto de apoio a Petro e sua tese do golpe moderado, que uniria instituições de Estado e conglomerados de mídia contra as reformas do governo. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, esteve entre os signatários do documento.

A surrada denúncia de conspirações pouco deve contribuir para a agenda da esquerda continental, que em países como Colômbia, Chile e Brasil conquistou o poder sem que necessariamente houvesse uma adesão majoritária do eleitorado e dos partidos a suas teses.

editoriais@grupofolha.com.br

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