Que o plano desde o Império era os homens no poder e não as mulheres, muito menos mulheres negras, a gente já sabia. Porém, o que agora igualmente sabemos é que isso independe de ideologia política.
Na mais alta corte do país, em 132 anos de existência, só se viu a presença de apenas três mulheres, porém elas tinham algo em comum: todas as três eram mulheres brancas, demonstrando o quão patriarcal e colonial ainda são os espaços de poder e decisão, que desenvolvem sua operação através do sexismo cumulado com o racismo epistêmico que ignora e subalterniza a presença, a intelectualidade e o conhecimento de mulheres negras, impedindo-as de mostrar outras narrativas para além da raça.
A aposentadoria da ministra Rosa Weber do STF premiou o presidente Lula com a oportunidade de manutenção da busca pela equidade de gênero e pelo início de uma ruptura da colonização dos espaços de poder e decisão que ainda subsiste ao indicar uma mulher negra. Todavia, a substituição da ministra por um homem, branco, além de alargar a desigualdade de gênero, perpetua esse racismo epistêmico que ignora a intelectualidade das mulheres negras ao supor que uma mulher negra não teria capacidade técnica para ocupar um assento na mais alta corte da Justiça do país.
A narrativa de que o critério seria proximidade confirma a ausência de mulheres negras em seu círculo de convivência e reafirma sua aliança com a manutenção do patriarcado cumulado com o pacto da branquitude, que combina manter mulheres negras distantes de qualquer espaço de poder e decisão.
A diversidade vai além de uma foto simbólica. A pluralidade de ideias e vivências gera eficiência e representatividade. Não há como falar em democracia sem igualdade. Não há como falar de igualdade sem racializar o debate. A mulher negra foi para a rampa, mas não foi para a Suprema Corte, pois o lugar da diversidade é na foto, e, dos homens, no poder.
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