O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) descobriu, neste ano inicial de terceiro mandato, que a política brasileira passou por pelo menos duas mudanças expressivas desde que ele deixou o Palácio do Planalto em 2010.
A primeira, possibilitada por alterações normativas nos últimos anos, diz respeito ao famigerado centrão. Conjunto amorfo de siglas que têm na fisiologia sua principal bandeira, o grupo liderado por Arthur Lira (PP-AL) detém hoje muito mais poder de barganha do que uma década atrás e oferece novos desafios para a coalizão governista.
A segunda mudança está no humor da população. Se antes os presidentes pareciam desfrutar de um período de graça, em que a maior parte das pessoas avaliava a gestão como positiva ou regular, agora existe cerca de um terço do eleitorado disposto, desde o começo, a reprovar as iniciativas que advenham do Executivo federal.
Os números da mais recente pesquisa Datafolha não deixam dúvidas quanto a isso. Lula aparece com 38% de aprovação dos brasileiros, enquanto 30% consideram seu trabalho regular, e o mesmo número, ruim ou péssimo —cifras que, com variações irrisórias, repetiram-se nos outros três levantamentos do instituto realizados em 2023.
Verdade que falta ao petista marca digna de nota neste retorno à Presidência. Programas nos quais ele apostou muitas fichas não passam de versões recicladas de ideias anteriores, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida.
Por outro lado, o desempenho da economia revelou-se melhor do que o esperado, com um crescimento do Produto Interno Bruto que deve se aproximar de 3%, inflação estável e as menores taxas de desemprego desde 2014.
Diante desse quadro, a melhor explicação para a rejeição elevada para esta altura do mandato parece estar na permanência de uma polarização acentuada. Com efeito, o perfil dos entrevistados que aprovam e desaprovam o petista espelha o dos eleitores que, respectivamente, votaram nele e em Jair Bolsonaro (PL) no último pleito.
A estridência golpista cedeu lugar à normalidade institucional, mas, por baixo dessa calma aparente, cristalizaram-se posições ideológicas em franco contraste.
Ressalte-se, por fim, um aspecto significativo da economia política. O governo, apesar de ter promovido em 2023 gastança de mais de dois pontos percentuais do PIB na comparação com 2022, de ter aumentado em 80% o desembolso real com o Bolsa Família e elevado o salário mínimo também acima da inflação, segue com a popularidade estável em relação à eleição.
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