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Máxi argentina

Milei desvaloriza peso em busca de dólares; não se sabe como lidará com efeitos

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Notas de mil pesos argentinos - Luis Robayo/AFP

O recém-empossado governo de Javier Milei apenas começou a anunciar as medidas com as quais pretende enfrentar a tenebrosa situação econômica da Argentina. Por ora, a providência mais drástica foi uma maxidesvalorização do peso —um termo trazido de volta da década de crises de 1980.

No câmbio oficial, US$ 1 sobe de 366 para 800 pesos, com perspectiva de novas desvalorizações mensais. Por vertiginoso que seja, o aumento torna mais realista a taxa de câmbio e atende à necessidade urgente de elevar as exportações para obter reservas em moeda forte.

É claro, no entanto, que uma guinada de tais proporções terá dolorosos impactos econômicos e sociais, que ainda não se sabe ao certo como serão enfrentados.

De mais concreto até aqui, haverá aumento imediato dos programas direcionados à população mais pobre, o que, em tese ao menos, é correto. Entretanto ainda são vagos os planos para equilibrar as contas do governo e conter uma inflação que chegou aos 160% em 12 meses —e será pressionada pela maxidesvalorização.

Apenas aos poucos é revelada a política do Banco Central em relação às taxas de juros, que continuarão muito negativas (abaixo da variação da inflação). Ao que parece, começa a haver liberação de preços no comércio, mas há muitos itens regulados ou controlados.

Sabe-se de modo extraoficial que o governo pretende zerar o déficit orçamentário também com aumento de arrecadação, cerca de 40% do esforço fiscal.

Parte do acréscimo da receita viria de impostos "provisórios" sobre importações e exportações e, em parte, da revogação da redução eleitoreira do Imposto de Renda promovida pelo governo peronista (apoiada, diga-se, por Milei).

Fala-se sobre cortes em subsídios de energia e transporte, aposentadorias, servidores e obras públicas.
As previsões de aumento da arrecadação podem ser muito otimistas, pois a Argentina deve enfrentar grave recessão em 2024.

Em outras frentes, a abordagem parece ser gradualista. O fim dos controles de fluxo de capital, das múltiplas taxas de câmbio e um Banco Central com autonomia para lidar com a inflação seriam objetivos de médio prazo. Logo, ainda não há programa de estabilização.

O governo diz abertamente que a vida dos argentinos ainda piorará antes de melhorar, o que de fato parece uma certeza. Menos claro é se a população terá paciência, se a nova administração será capaz de formular e implementar a enorme quantidade de providências para tirar a Argentina do colapso e se as forças políticas do país chegarão a um entendimento mínimo.

editoriais@grupofolha.com.br

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