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Um teste para Lula

Crise Venezuela-Guiana revela riscos da ligação do PT com ditaduras de esquerda

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Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Ueslei Marcelino - 30.mai.23/Reuters

Para surpresa de ninguém, a crise causada pelo plebiscito venezuelano que reclamou a soberania da região de Essequibo, na Guiana, escalou ao gosto da fanfarronice do ditador de Caracas, Nicolás Maduro.

Após promover a farsesca consulta, sem legitimidade da ONU, o caudilho achou por bem avançar a retórica sobre a região rica em petróleo e outros recursos minerais.

De uma só vez, mostrou um mapa da Venezuela com o território vizinho já anexado, anunciou que a petroleira estatal PDVSA iria emitir licenças para exploração no local (para quem mesmo?) e nomeou um general como governador "in abstentia" da região.

O despautério foi recebido em Georgetown como tal, mas também como ameaça, dado que o pequeno país não tem condições de se defender de um hipotético ataque venezuelano sem ajuda externa.

Ela viria, talvez, dos Estados Unidos. A empresa americana ExxonMobil começou a explorar a enorme reserva de petróleo encontrada no litoral de Essequibo em 2019, após quatro anos de prospecções. É o suficiente para Maduro acusá-la de agente do imperialismo.

Todavia tal reação não é uma certeza, até porque a pantomima do ditador até aqui não passou disso.

Ele tenta ampliar apoio interno, fraco dados os 50,7% de comparecimento no referendo de domingo (3), e se ampara na popularidade do tema em seu país, que luta por Essequibo desde o século 19.

A crise afeta Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente e seu partido são defensores ferrenhos da ditadura vizinha, assim como de outras na América Latina —desde que sejam de esquerda.

Com Maduro destemperado, o governo brasileiro se viu obrigado a mostrar sensatez. Lula e seu chanceler de direito, Mauro Vieira, apelaram a panos quentes. Tom mais alarmista foi adotado pelo ministro das relações exteriores de fato, o assessor Celso Amorim, que falou em medo de escalada.

Ele pode estar bem informado ou apenas forçando a aparência de crise, de olho numa desescalada em que o Brasil apareça como apaziguador. Militares, por sua vez, sinalizaram à Venezuela que não querem agitação numa fronteira já complexa e cheia de refugiados.

Em qualquer situação, Lula pagará o preço por andar em más companhias. O ônus já está sendo explorado nas redes bolsonaristas. Resta saber como o petista agirá no ora improvável caso de Maduro resolver fazer algo concreto.

editoriais@grupofolha.com.br

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