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O que a Folha pensa drogas

Equador em chamas

País vive terror com disputas do narcotráfico, efeito nefasto da guerra à droga

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Soldados do Exército patrulham ruas do centro histórico de Quito (Equador) - Karen Toro - 9.jan.24/Reuters

A consequência mais nefasta da guerra às drogas foi a criação de megacartéis do narcotráfico que disputam o domínio do mercado por meio da violência armada.

Assim o evidencia a violência que grassa na América Latina —e o terror que assola o Equador nos últimos dias. A fuga de Adolfo Macías, conhecido como Fito e líder da facção criminosa Los Choneros, gerou uma série de rebeliões em presídios, levando o recém-empossado presidente Daniel Noboa a declarar estado de exceção de 60 dias.

A partir daí, uma reação criminosa com bombas e sequestros deixou ao menos dez mortos. Na terça (9), Noboa assinou decreto que aponta a existência de um "conflito armado interno" e autoriza operações militares do Exército.

O estopim da crise, a fuga de Fito, está inserido em um contexto mais complexo, que envolve a reconfiguração das disputas pelo mercado de drogas na região.

Em 2016, o então presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, firmou acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias (Farc), grupo guerrilheiro marxista surgido nos anos 1960 que, com o tempo, associou-se ao narcotráfico.

As Farc praticamente dominavam a produção de cocaína ao sul do país e as rotas de escoamento até os portos do Equador, de onde o produto rumava a México, EUA e Europa. Com o acordo de Santos, o grupo desmantelou-se —parte seguiu para a política e parte formou facções dissidentes que passaram a disputar o vácuo de poder e se espalhar por países vizinhos.

A isso somou-se o incremento da atuação de cartéis mexicanos rivais que já operavam no Equador, mas de modo discreto, como os de Sinaloa e de Jalisco Nueva Generación. Facções equatorianas passaram a trabalhar para esses carteis, intensificando os embates —o grupo de Fito, por exemplo, é um braço do cartel de Sinaloa.

A Pesquisa de Conflitos Armados, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos do Reino Unido, aponta que a taxa de homicídios no Equador escalou de 6 por 100 mil habitantes em 2016, ano do acordo com as Farc, para 26/100 mil em 2022. Nos presídios, as mortes violentas saltaram de 32 em 2019 para 323 em 2021.

Maior país da América Latina, o Brasil também vive os impactos das disputas do narcotráfico na forma de taxas elevadas de assassinatos.

Os países da região precisam rever suas políticas sobre drogas, buscando ações interdisciplinares alternativas à penalização e ao proibicionismo, que até agora só obtiveram como resultado a escalada do crime e da violência.

editoriais@grupofolha.com.br

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