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O que a Folha pensa mudança climática

Dengue em alta

Recorde de mortes também tem relação com mudança climática, que exige adaptação

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Mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue - Shinji Kasai/AFP

Dados recém-divulgados pelo Ministério da Saúde sobre a dengue confirmam o perigo sobre o qual especialistas e a Organização Mundial de Saúde alertavam: o número de mortes pela doença no ano passado foi o maior da série histórica iniciada em 2000.

As 1.094 vidas perdidas representam alta de 3,86% em comparação com 2022 e de 11% com 2015 —o terceiro ano com mais óbitos. Em 2001, foram só 43 mortes. Já o número de casos subiu 16,8% em relação a 2022; os 1.658.816 de 2023 só perdem para os 1.688.688 de 2015. No primeiro ano da série, foram pouco mais de 135 mil.

Essa tendência de alta tem aspectos multifatoriais. Um deles diz respeito ao fato de que há quatro sorotipos do vírus e que a imunidade é adquirida quando o indivíduo é contaminado por um deles, ficando ainda suscetível aos outros três.

O quarto sorotipo chegou ao Brasil em 2010 e foi naquele ano que o número de casos pela primeira vez chegou à casa de 1 milhão.

Há também fatores de longo prazo que sucessivos governos nas esferas federal, estadual e municipal têm negligenciado, como a infraestrutura precária do saneamento básico e a urbanização descontrolada a partir da derrubada de áreas verdes para construção de habitações irregulares.

A mudança climática causada pela emissão de gases de efeito estufa também piora a situação, com aumento das temperaturas, da duração das estações mais quentes do ano e das chuvas —condições ambientais favoráveis ao mosquito.

Essa conjuntura, aliada ao fenômeno El Niño, que aumenta a temperatura do oceano Pacífico, levou a OMS a emitir um alerta em janeiro do ano passado sobre a "ameaça pandêmica" da dengue e, em julho, outro sobre recorde de casos em 2023. Até mesmo regiões que historicamente não eram afetadas por casos autóctones, como Estados Unidos e Europa, agora são.

O Ministério da Saúde anunciou incorporação ao SUS da vacina japonesa Qdenga, aprovada para venda pela Anvisa em março de 2023, mas a autorização para uso no sistema público ficou presa até dezembro num labirinto burocrático.

No entanto o imunizante não deve servir como desculpa para que o poder público se exima de implementar medidas contínuas e de longo prazo que incrementem a infraestrutura sanitária e urbana e, principalmente, que se antecipem aos problemas gerados pela mudança climática.

editoriais@grupofolha.com.br

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