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Pacificação meritória

Normalização das relações civis-militares avança com Múcio na pasta da Defesa

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Múcio, ministro da Defesa, em Brasília (DF) - Pedro Ladeira/Folhapress

Desde que foi escolhido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar a espinhosa pasta da Defesa, em dezembro de 2022, José Múcio viu-se com a missão de pacificar as relações entre o estamento militar e o poder civil.

Não seria fácil. Durante os quatro anos de Jair Bolsonaro (PL) no Planalto, os fardados retornaram de forma estrondosa ao centro do palco da vida política brasileira. Aderiram ao antes malvisto capitão indisciplinado e auferiram vantagens, como na reforma previdenciária e de carreira de 2019.

Ocuparam a máquina de forma indevida, como provou a traumática passagem do general Eduardo Pazuello pela Saúde na pandemia.

Quando se recusaram a rezar a cartilha política do presidente, Bolsonaro sequestrou a cúpula militar ao demitir ministro e comandantes de Força, algo inédito. O ex-presidente usou a imagem dos fardados para lustrar seus planos golpistas.

Bolsonaro perdeu a eleição e os generais nada fizeram para impedir a concentração de simpatizantes do golpismo em frente a quartéis.

Múcio teve sucesso em costurar a sucessão nas Forças, ocorrida ainda na transição de governo, só não conseguindo entendimento com o insubordinado chefe da Marinha.

O 8 de janeiro quase pôs tudo a perder, dada a desconfiança de Lula quanto às intenções militares, acentuada por omissões e mesmo a presença de fardados entre os arruaceiros. O ministro se viu obrigado a entregar a cabeça do comandante do Exército no 21º dia de governo, e a partir daí jogou xadrez.

Para cada movimento de enquadramento dos militares, como a tentativa do PT de avançar projeto para mudar as atribuições constitucionais das Forças, Múcio atuou com a moderação que lhe trouxe fama em anos no Congresso e no Tribunal de Contas da União.

Tratou de aproximar Lula dos comandantes e tornou a pasta tribuna para as demandas cotidianas dos fardados, como por verbas. Exatamente como o petista fizera nos seus mandatos anteriores.

A estratégia conciliatória não tem aprovação geral, sobretudo em razão da impunidade predominante. Na cerimônia que marcou a passagem de um ano dos ataques aos Poderes, Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, fez crítica aberta aos apaziguadores.

Note-se, de todo modo, que os três comandantes das Forças estavam presentes ao ato. Múcio reverteu o clima de apreensão constante com os desígnios dos altos oficiais, recolocando-os nos quartéis. Para um primeiro ano, não é pouco.

editoriais@grupofolha.com.br

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