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Cornucópia cadastral

Georreferenciamento do Censo 2022 pode amplificar capacidade gerencial do Estado

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Deslizamento de terra invade casas em São Sebastião (SP) - Fernando Marron - 20.fev.23/AFP

A complexa realidade social vem sendo capturada em alta velocidade pela proliferação de bases de dados, o que em princípio facilita tanto o desempenho quanto a cobrança de governantes. O casamento dos dados do IBGE com sistemas digitais de informação geográfica dá bom exemplo das faculdades panópticas do Estado.

Claro que há riscos implícitos, como ao direito de privacidade. Mas, ressalvadas restrições da Lei Geral de Proteção de Dados, a multiplicação de cadastros abre ampla janela de oportunidade para aperfeiçoar políticas públicas.

Como mostrou a Folha, pela primeira vez entrevistadores do IBGE coletaram, no Censo de 2022, as coordenadas dos 111 milhões de endereços onde vivem 203 milhões de brasileiros. Apenas em 747 mil edificações (0,7%) a informação precisa deixou de ser obtida e precisou ser estimada.

Em recenseamentos anteriores, a localização se fazia em células com 200 m de lado, em áreas urbanas, ou até 1 km, em zonas rurais. Agora se pode verificar, por imagens de satélite, cada prédio.

O fruto mais imediato da acuidade geodemográfica foi relacionar as 18 cidades campeãs em imóveis vazios, ou seja, com mais domicílios do que habitantes — como municípios de veraneio, que têm casas ocupadas temporariamente.

Um emprego mais pragmático dessas informações seria cruzá-las com o mapeamento das áreas de risco da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. A superposição diagnosticaria a existência de 144 domicílios na área de médio risco e outros 199 na de risco alto da Vila do Sahy, em São Sebastião (SP), onde deslizamentos mataram 64 pessoas no Carnaval passado.

A disponibilidade das bases de dados, no entanto, não garante eficiência do poder público. Não é por falta de informações detalhadas, mas por omissão flagrante, que tais tragédias se repetem a cada verão —mais ainda com os efeitos da mudança climática.

É preciso mobilizar os números inertes em discos rígidos para instruir políticas consequentes. Dados que se multiplicam de nada servem quando não se antevê, nem se decide, o que fazer com eles.

editoriais@grupofolha.com.br

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