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O que a Folha pensa Estados Unidos

Inflação nos EUA é má notícia para o Brasil

Projeção de juros americanos mais altos traz desafios para a economia aqui, em especial devido à alta do gasto público

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Fachada do Federal Reserve, em Washington (EUA) - Jonathan Ernst/Reuters

Se a inflação brasileira proporciona boas notícias, com alta do IPCA de apenas 0,16% em março e 3,93% em 12 meses, o quadro nos Estados Unidos tem caminhado na direção oposta —o que, no final das contas, contribui para dificultar os cortes de juros pelo Banco Central.

Aqui, o índice de março ficou abaixo do esperado por analistas. Houve desaceleração em itens como alimentação e bens industriais, além de alívio no setor de serviços.

Os núcleos da inflação acompanhados pelo BC, destinados a mensurar pressões de caráter mais duradouro, subiram 0,15%, em média. Em 12 meses, a variação caiu de 4% em fevereiro para 3,8%.

Visto isoladamente, tal resultado traria otimismo ao mercado por ampliar as chances de que a taxa Selic possa ser reduzida para menos de 10% ao ano nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária do BC.

No mesmo momento, entretanto, foi divulgado o resultado da inflação americana no mês passado, de 0,4%, o que perfaz 3,5% em 12 meses. É uma cifra ainda muito distante da meta de 2% anuais perseguida pelo Federal Reserve. Pior, há vários meses que os índices não dão sinais de queda lá.

Em consequência, fica mais distante o início do ciclo de cortes dos juros americanos, hoje em 5,5%. Na abertura de 2024 estava incorporada uma expectativa de redução de 1,75 ponto percentual neste ano, agora reduzida para menos e 0,5.

Questiona-se, ademais, se será viável aliviar a política monetária diante do vigor da economia americana, que mostra forte criação de empregos, alta de salários além da produtividade e inflação renitente.

Não ajuda que os déficits orçamentários do governo Joe Biden sejam crescentes, o que alimenta a demanda e o risco de juros mais elevados de maneira permanente.

Não existe correspondência automática entre o cenário nos EUA e a gestão da nossa política monetária, como salientou o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Mas há impactos relevantes.

Num exemplo, a valorização do dólar faz subir os preços dos combustíveis, também pressionados internacionalmente pelo petróleo mais caro. Não por acaso, a defasagem dos preços domésticos de gasolina já supera 15%, trazendo pressões para a inflação adiante.

Hoje estima-se que os juros brasileiros dificilmente cairão muito abaixo dos 10% ao ano, o que mostra a necessidade de maior prudência na gestão da economia.

O caminho para viabilizar taxas mais baixas no Brasil em meio a esse ambiente global inóspito é convencer a sociedade de que não haverá descontrole das contas do Tesouro Nacional. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não mostra essa compreensão.

editoriais@grupofolha.com.br

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