A compreensão sobre os mecanismos de doença e seu tratamento promete um futuro revolucionário, dada a progressiva produção de ciência e inovação em constantes transformações. A medicina de precisão com base no perfil genético individual somada à inteligência artificial (IA) no processamento de um gigantesco volume de dados gerados por novas tecnologias analíticas, acelerando a descoberta de novos alvos terapêuticos e no desenvolvimento de medicamentos mais eficazes, tem possibilitado avanços importantes no cuidado singularizado em saúde.
A medicina regenerativa e a bioengenharia apontam para possibilidades de regeneração de órgãos que irão reduzir, ou extinguir, as filas de transplantes e aumentar a duração da vida. Da ciência que tem como foco a promoção da saúde, a redução da mortalidade e a diminuição do sofrimento, esperamos o desenvolvimento de estratégias integradas para um futuro com mais saúde e longevidade.
No entanto, é vital refletirmos sobre quem terá acesso a todos esses avanços. Uma medicina de futuro para quem? O que nos move na direção desse questionamento é a atual situação de desigualdade de acesso à saúde, a pobreza e a insegurança alimentar que afligem comunidades inteiras, e os impactos das mudanças climáticas que vitimam muito mais as populações vulneráveis.
Nesse sentido, entendemos que a pesquisa, sobretudo no campo das ciências sociais e humanas, pode contribuir para que a abordagem humanística esteja presente transversalmente na formação de profissionais da saúde, e em diálogo com a abordagem tecnológica. O desejo de realizar um futuro no qual o planeta como um todo seja saudável precisa estar presente de forma estruturante na formação de profissionais que atuarão na assistência, na prevenção, na geração de conhecimento e na formulação de políticas públicas inclusivas e socialmente referenciadas.
O Brasil possui um capital humano capaz de liderar as mudanças necessárias para atuar nesse cenário de futuro, mas é fundamental que os investimentos em saúde, educação, e em ciência, tecnologia e inovação sejam robustos e constantes. Na base de toda solução transformadora, seja tecnológica ou social, está a construção de um conhecimento que advém da ciência e do exercício de cidadania. Investimentos para fomentar a pesquisa e a formação de cientistas devem ser garantidos por lei e não podem estar sujeitos a intervenções ao sabor e vontade de quem ocupa postos de decisão.
O Brasil já investiu muito na formação de pessoas que podem nos colocar no rumo de uma sociedade igualitária no sentido amplo, com equidade de acesso à saúde, educação, cultura e lazer. É imperioso estarmos atentos e em constante vigilância para que a saúde planetária seja uma realidade para as futuras gerações.
A Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo —uma instituição de excelência no ensino, pesquisa, extensão, inovação e assistência, sempre aberta à pluralidade de pessoas e ideias—, ao mesmo tempo que celebra seus 90 anos, tem investido nessa mudança de cultura acadêmica frente aos desafios do mundo contemporâneo.
Garantir uma escola-médica com solidez acadêmica, profissional e humanística rumo ao centenário requer continuar aprendendo e construindo uma educação emancipadora e antirracista, defendendo a ciência aberta, a multiculturalidade e a diversidade. Da diversidade de pessoas, culturas, credos e saberes (re)nasce a consciência humana, que produz vida, arte, empatia e bem viver, na perspectiva da pluralidade de futuros.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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