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O que a Folha pensa mudança climática

Falta pouco para 2040

É possível se adaptar à crise do clima, mas aproveitando informação de qualidade

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Estrada inundada em Canoas (RS) - Nelson Almeida - 14.mai.24/AFP

O debate sobre a tragédia do Rio Grande do Sul se viu capturado, como de hábito, pelos extremos do espectro político. Em meio à algaravia, ganhou notoriedade o mau passo do governo Dilma Rousseff (PT) com o estudo Brasil 2040, sobre mudanças climáticas.

Tratava-se de iniciativa incomum no Estado brasileiro: partir dos cenários de impactos do aquecimento global para identificar vulnerabilidades e estabelecer prioridades. Um plano baseado na melhor informação científica, analisada na Secretaria de Assuntos Estratégicos, não um compilado com iniciativas desconexas de ministérios.

Os cenários vinham sendo gerados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais desde a virada do século. A ideia era regionalizar ao máximo a informação, por exemplo até o nível de bacias hidrográficas, e projetar o que poderia acontecer com a geração hidrelétrica, a agropecuária e assim por diante.

Iniciado em 2013, o estudo orçado em cerca de R$ 4 milhões em valores corrigidos pela inflação nunca chegou à fase conclusiva. Em março de 2015, o filósofo Roberto Mangabeira Unger assumiu a SAE e desmantelou a iniciativa.

Dilma publicou nota há poucos dias negando que o Brasil 2040 tenha sido "engavetado". Alega que o documento foi enviado ainda no primeiro semestre de 2015 ao Ministério do Meio Ambiente e incorporado ao Plano Nacional de Adaptação para Mudança Climática.

Só faltou dizer que o estudo estava inacabado. A parte final do programa, de proposição de medidas estratégicas de adaptação climática, não chegou a ser elaborada.

Justiça seja feita: um relatório desses, mesmo completo, teria pouca implicação direta para prevenção do desastre gaúcho. A previsão genérica de que o aquecimento global traria mais chuvas ao Sul não chega a ser informação de relevância operacional.

O episódio impõe duas lições. Primeiro, que o país tem especialistas capazes de produzir base sólida para um plano mais ambicioso de adaptação. Segundo, que é hora de engavetar a prática de governantes ignorarem informação de qualidade quando ela não concorda com sua orientação ideológica.

editoriais@grupofolha.com.br

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