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Longe do fim da linha

É preciso apurar laços com crime e criar sistema de ônibus mais funcional em SP

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Ônibus no terminal Parque Dom Pedro 2º, em São Paulo (SP) - Karime Xavier/Folhapress

Indícios da infiltração do crime organizado no sistema dos ônibus municipais de São Paulo remontam aos anos 1990, quando perueiros clandestinos, sob a égide da chamada "máfia dos transportes", circulavam sobretudo pelos bairros mais periféricos.

Parte dessas cooperativas foi absorvida na reorganização do transporte público promovida em 2003, ainda na gestão Marta Suplicy (PT).

Apesar de convertidas em viações oficiais, suspeita-se que muitas não se desvencilharam dos laços com a ilegalidade e são usadas para lavar dinheiro —por vezes sem abrir mão de conexões políticas.

Nova incursão nesse seara ocorreu na terça (9), quando o Ministério Público deflagrou a Operação Fim da Linha mirando duas empresas, Transwolff e a Upbus, que teriam ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Foram presas quatro pessoas, e apreendidas armas e drogas.

Nas investigações, a Receita Federal apontou um esquema de desvios tributários, sob o auxílio de experientes contadores.

O ilícito alcançaria cifras estratosféricas: entre 2020 e 2022, contas dos envolvidos movimentaram nada menos que R$ 732 milhões. A Justiça já determinou o bloqueio de R$ 600 milhões em patrimônio.

Responsáveis por transportar cerca de 700 mil passageiros diariamente, apenas as duas empresas receberam mais de R$ 800 milhões em subsídios da administração Ricardo Nunes (MDB) em 2023. A prefeitura interveio nas viações e já assumiu o controle das linhas.

A operação dos coletivos em São Paulo sempre esteve longe de ser sustentável, eficaz ou transparente. A tarifa está congelada artificialmente desde 2020, e o despejo de subsídios para bancar os custos cresce ano a ano (chegará a R$ 5,3 bilhões neste 2024, um recorde).

Há distribuição desequilibrada das linhas, atrasos, veículos precários e perda significativa de passageiros após a pandemia; a contabilidade das viações é nebulosa e, pelas suspeitas, sujeita a fraudes.

Cabe a este e ao próximo prefeito, seja qual for, desenvolver um sistema funcional —eliminar brechas para atividades criminosas é somente um dos desafios.

editoriais@grupofolha.com.br

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