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O que a Folha pensa Banco Central

Autonomia e rapapés

Se chefe do BC afastou-se do ataque de Lula, deveria evitar cortejo de Tarcísio

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Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Gabriela Biló/Folhapress

A experiência brasileira com a autonomia formal do Banco Central é recente, e os padrões de conduta a serem seguidos sob tal condição ainda não estão bem assentados. Isso dito, é evidente que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem se deixado bajular perigosamente por setores da política.

O episódio mais recente foi a homenagem recebida na Assembleia Legislativa de São Paulo, na segunda (10), seguida de jantar oferecido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) —com a presença de empresários e políticos do calibre do ex-presidente Michel Temer (MDB) e de Gilberto Kassab (PSD).

Menos de um mês antes, os mesmos Campos Neto e Tarcísio foram os convidados mais ilustres de um jantar organizado por Luciano Huck, apresentador da TV Globo que há anos demonstra a intenção de participar direta ou indiretamente da disputa presidencial.

É perfeitamente razoável, até desejável, que um dirigente do BC tenha relações institucionais com autoridades de todos os níveis de governo. Nesses dois casos, porém, o economista faria melhor em preservar certo distanciamento.

O governador de São Paulo, todos sabem, é um potencial candidato ao Planalto que busca manter um pé na canoa do bolsonarismo e outro na da moderação. Não à toa, Campos Neto passou a ser visto como possível candidato a ministro da Fazenda —de um postulante eventual em um pleito presidencial distante, de nomes e resultados incertos.

A autonomia, com mandatos para o presidente e os diretores, foi instituída em 2021 para proteger o BC de ingerências políticas. A norma, correta, passou bem pelo seu primeiro teste de estresse —a saraivada de ataques por parte de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e liderados às bases da política monetária.

Se soube distanciar-se com serenidade das diatribes de Lula, Campos Neto deveria fazer o mesmo com os rapapés de Tarcísio e outros. Mais discrição seria recomendável nos pouco mais de seis meses que lhe restam à frente do órgão, cuja credibilidade é fundamental para o sucesso do controle da inflação numa conjuntura que se tornou mais difícil.

editoriais@grupofolha.com.br

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