Descrição de chapéu
O que a Folha pensa PIB

PIB avançou no 1º tri, mas incerteza cresceu

Alta foi puxada por emprego, renda e benefícios sociais; condições para a queda dos juros se estreitaram desde então

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Haddad, ministro da Fazenda - Pedro Ladeira/folhapress

A economia voltou a avançar com maior vigor no início deste ano, depois de seis meses de estagnação. A alta de 0,8% do PIB no primeiro trimestre e outros indicadores sugerem que por ora é razoável esperar que o crescimento de 2024 possa ficar entre 2% e 2,5%.

Caso venha a se confirmar, tal resultado será o melhor desempenho trienal desde 2011-13 (tirando da conta os anos atípicos da pandemia, 2020 e 2021). Ainda assim, trata-se de um aumento que não deve ser considerado satisfatório para que o país supere suas fragilidades socioeconômicas.

A questão imediata é saber se a atividade manterá ao menos o ritmo de progresso, ainda modesto.
No curtíssimo prazo, a alta das despesas em benefícios sociais e precatórios incentivaram o PIB. O salário mínimo mais elevado e a expansão de empregos e do rendimento médio do trabalho foram o esteio do crescimento no período.

O aporte na capacidade produtiva voltou enfim a subir; no acumulado de quatro trimestres, porém, recuou. A taxa de investimento é das mais baixas do século. O avanço do PIB deve-se mais ao consumo, em parte impulsionado pela despesa extra do governo, que tem limites já muito evidentes.

Assim, melhorias recentes logo vão se tornar insustentáveis.

Novas incertezas nublam as perspectivas imediatas. A catástrofe no Rio Grande do Sul destruiu vidas, trabalho e capacidade produtiva; seus efeitos sobre o PIB por enquanto são incalculáveis.

Também há indefinição no âmbito internacional. A queda dos juros no Brasil depende, em parte relevante, das taxas nos Estados Unidos. Por ora, o aperto monetário americano contribui para a piora das condições financeiras por aqui.

Ademais, a projeção de dívida pública crescente, a descrença generalizada no cumprimento das metas de déficit orçamentário e indefinições sobre o comando do Banco Central devem impedir a baixa da Selic —tudo isso já eleva as taxas de juros de longo prazo.

Assim, o pequeno alívio no crédito decorrente da queda da taxa básica, em curso desde agosto de 2023, deve perder força no fim do ano. Embora o desempenho do mercado de trabalho seja positivo, há dúvida a respeito de quanto tempo uma situação de baixa de desemprego, aumento da média salarial e queda da inflação pode ser sustentável.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderia contribuir para a mitigação de incertezas e para o crescimento futuro se apresentasse um compromisso inequívoco com a responsabilidade fiscal, a autonomia do BC e a boa gestão das estatais.

Tudo indica, entretanto, que não se deve apostar em mostras de pragmatismo por parte de Brasília.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.